quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

2014 em revista: Transmissão

Galvão, Burti e Reginaldo: malabarismos para  ludibriar
o espectador detonam a credibilidade da F1

A Fórmula 1 começou a despertar algum interesse nos brasileiros quando Emerson Fittipaldi começou a mostrar que o país era capaz de se destacar no cenário automobilístico internacional. Nelson Piquet ajudou nessa percepção quando começou a ganhar títulos. Mas foi na segunda metade da década de 1980 que o esporte se popularizou de vez, graças a figura icônica de Ayrton Senna.

Piloto talentosíssimo, adepto a frases de efeito, sempre pronto a empunhar a bandeira brasileira a cada vitória, Senna era o personagem perfeito. A Globo embarcou na brincadeira e trabalhou para convertê-lo num verdadeiro semideus. Com o país em crise, população desesperançada, futebol em baixa (a seleção perdeu duas copas nas quais era favorita), o tema da vitória das manhãs de domingo tornou-se a redenção do país, na figura de Ayrton Senna.

Mas, há vinte anos, Senna se arrebentou num muro em Ímola e se foi. E, por incrível que pareça, sua ausência não foi capaz de demonstrar à Globo, que a história do herói nacional, pelo menos no automobilismo, não colava mais. Rubens Barrichello carregou essa cruz e virou chacota na boca da torcida, embora tenha tido uma carreira respeitável. Felipe Massa chegou perto de ser campeão pela Ferrari, mas os anos seguintes mostraram que aquele 2008 foi uma exceção à regra. De resto, uma longa lista de brasileiros que passaram pela F1 com pouco ou nenhum destaque.

O fato é que, sem um ídolo para cultuar, a Globo partiu para uma estratégia de defender o indenfensável. Galvão Bueno, Reginaldo Leme e Luciano Burti passaram os últimos três ou quatro anos se desdobrando para convencer o telespectador de que ele não estava vendo o que estava acontecendo na realidade. Não importa qual erro Felipe Massa cometa na pista: a culpa nunca será dele, parece ser o lema.

Em 2014, atingimos o fundo do poço em termos de transmissão de Fórmula 1. Profissionais despreparados, comentários que nada acrescentam, áudios vazando no ar com locutores mostrando como fariam para ludibriar o espectador. Rubens Barrichello, que pelo menos fazia comentários técnicos interessantes, foi dispensado.

O interesse em F1, que já era pouco, foi ficando cada vez menor. A Globo tirou do ar o início dos treinos. Boatos deram conta de que a transmissão da temporada 2015 seria feita, totalmente, pelo Sportv, o que foi desmentido.

O ano de 2014 mostrou que a Fórmula 1 não é mais um esporte que se adequa às exigências da Globo. As corridas são longas, não há pilotos em condição de serem heróis e as corridas, aos domingos, tiram a chance da emissora colocar no ar algum “Desafio Espetacular de Verão”, que irá revelar um novo ícone brasileiro das praias.

Continuo com a mesma opinião: a TV fechada (por mais Litos Cavalcantis que se tenha que aturar) só vai fazer bem à F1 no Brasil. Automobilismo é um esporte especializado, quem gosta, gosta e ponto. Chega dessa massificação besta, não precisamos de heróis. Precisamos de uma equipe capaz de transmitir a corrida, narrando e comentando. O resto é bobagem.

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