segunda-feira, 20 de abril de 2015

Raikkonen desafia Hamilton no Barhein: não deu nem pro cheiro


Lewis Hamilton estreou na Fórmula 1, em 2007, como um verdadeiro furacão. Rápido e atrevido, bateu seu companheiro na McLaren, Fernando Alonso, e desencadeou uma guerra nos bastidores da equipe, já que o espanhol não engole bem companheiros mais rápidos que ele. Venceu o campeonato em 2008 mas, nos anos seguintes, sem um carro tão equilibrado, sofreu com batidas, brigas fora da pista. E não basta que um piloto seja veloz, ele precisa ter cabeça.

Nada disso tem a ver com o Hamilton que vemos em 2015. Já bi-campeão, depois de conquistar o título de 2014 numa briga de foice contra o companheiro Rosberg, o inglês sobra na turma este ano. O GP do Barhein, disputado neste fim de semana, apenas confirma a tendência que já se anunciava. Lewis tem um controle tão absurdo da corrida que tenho a impressão que ele está o tempo todo poupando o carro. Se fosse acelerar pra valer, deixaria todos comendo poeira.

Portanto, falar de Hamilton a esta altura, na quarta etapa do campeonato, é chover no molhado. A não ser que ocorra uma catástrofe, e não vai ocorrer, o campeonato de 2015 já é dele.

Falemos então de seus adversários. E, neste fim de semana, o principal deles foi Kimi Raikkonen. Fazendo sua melhor corrida, desde que retornou à Ferrari, o finlandês tirou proveito do bom desempenho do carro italiano durante a corrida, adotou uma tática diferente e impediu mais uma dobradinha da Mercedes no ano. Enquanto isso, Vettel, que vinha sendo uma das sensações do ano, pouco fez. Foi ultrapassado por Rosberg três vezes durante a corrida, danificou o bico de seu carro e terminou na quinta posição, sem conseguir superar Valteri Bottas no final. Um resultado decepcionante, para quem chegou a pensar em vitória.

Do outro lado, Nico Rosberg está cada vez mais derrotado na Mercedes. A equipe não colaborou com ele, é verdade, já que o devolveu à pista atrás de Vettel em todos os pit-stops, mas Rosberg não chegou nem perto de ameaçar Hamilton na ponta. E, ainda por cima, entregou a segunda posição para Raikkonen no final, ao cometer um erro que a Mercedes credita aos freios, mas eu duvido muito.

Quem sofreu no Barhein foi Felipe Massa. Largando em último, depois que seu carro ficou parado no grid, o brasileiro vinha se recuperando até bem. Mas ficou preso atrás de Nico Hulkenberg em certo momento, e jogou fora suas chances de conseguir um resultado mais expressivo do que o 10° obtido no final. O outro
brasileiro, Felipe Nasr, foi combativo durante a prova, mas a estratégia de 3 paradas o derrubou para o 12° lugar.

A Fórmula 1 volta à Europa, daqui três semanas, para o GP da Espanha. As quatro primeiras provas da temporada serviram muito bem para mostrar que a Ferrari até pode ter chegado mais perto da Mercedes, mas ainda não é uma ameaça real. Infelizmente, para o campeonato.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Há 21 anos



Adoro esses videos amadores, de torcedores nas arquibancadas dos GP`s. Principalmente os mais antigos, já que era muito mais raro alguém se dispor (e ter grana) para levar um equipamento para filmar uma corrida. Hoje, qualquer celular faz isso, com excelente qualidade.

Mas vejam essa pérola que achei na Internet: algum japinha que estava nas arquibancadas de Aida, no Japão, fez imagens da corrida em 1994. Ayrton Senna ainda lutava contra os problemas da Williams e precisava marcar pontos após a desastrosa estréia em Interlagos. Fez a pole mas, na primeira curva, foi acertado por Mika Hakkinen, saiu da pista e depois Nicola Larini completou o serviço. A corrida aconteceu há exatamente 21 anos, no dia 17/04. Nunca tinha notado que a pancada de Larini tinha entortado a suspensão da Williams. E vejam que Senna quase é atropelado pelo próprio carro, quando o fiscal atrapalhado tenta erguê-lo com o guincho.

De fato, um começo de temporada dificílimo para o brasileiro. Principalmente porque, duas semanas depois, em Ímola, aconteceu aquilo que todos já sabemos.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A arte da narração

Estava eu tentando me manter acordado diante da TV, para não perder o final do GP da China, quando recebo uma mensagem do meu amigo Luis Fernando Ramos: “É como você disse: os caras não narram a corrida, ficam batendo papo”. É verdade, eu disse isso mesmo. Mas como a Globo escalou Cléber Machado para narrar a corrida chinesa, confesso que só esse consolo me fez não dar tanta atenção para este problema, já que acho Cléber o melhor narrador da emissora.

Mas, na F1, ele também parece que resolveu seguir a receita que a emissora vem adotando pelo menos nos últimos 5 anos. Os narradores da Globo não narram a corrida. Ficam conversando, debatendo, fazendo piadinhas, e quando tem um lance bonito, como Verstappen passando Ericsson, por exemplo, aí o narrador apenas exclama: “ó, o Verstappen passou.”.

Mas o que é narrar uma corrida? Aliás, o que é narrar qualquer modalidade esportiva? Bem, não há segredo: narrar é transmitir a emoção, traduzir em palavras aquilo que o telespectador está sentindo ao ver dois carros disputando uma posição, tocando rodas. Uma ultrapassagem é o momento máximo de uma corrida, uma demonstração clara da habilidade de um piloto em atacar, enquanto o outro defende aquilo que conquistou. É, enfim, um momento que pede um relato diferenciado da equipe de transmissão.

Vamos aos exemplos:



Veja que há uma briga linda entre Rubinho e Alesi, e Galvão Bueno capta este momento com inteligência, mostrando ao espectador que o que ele está vendo é realmente uma briga aberta entre dois pilotos, momento sublime de qualquer corrida.

Há também o exemplo abaixo, com o mesmo Rubinho. Veja que o narrador é pego de surpresa pela imagem, mas opta por narrar o lance, ao invés de falar: “olha, o Rubinho passou, que beleza”, que é o que fazem hoje.



Num exemplo mais recente, temos uma briga entre Felipe Massa e Bruno Senna, quando Massa fez a mais bela ultrapassagem de 2012, em Cingapura. A narração é do mesmo Galvão Bueno, mas o comportamento é outro:



Viu a diferença? Nos lances anteriores, Galvão efetivamente fez o que um narrador deve fazer, conseguiu transmitir a emoção do lance. Na ultrapassem de Massa ele opta, sem alterar o tom de voz, em contar o que já estamos vendo, sem acrescentar nenhum elemento diferente, como nas manobras de Rubinho contra Mansell e Alesi.

Seria uma nova linha editorial, preguiça ou desinteresse mesmo? Não sei, mas que ajuda a tornar tudo mais chato, ajuda. No último GP da China, a geração de imagens se esforçou para mostrar as brigas no pelotão intermediário, já que nada acontecia na frente, mas nada disso foi aproveitado por Cléber Machado.

Aí não tem cristão que se mantenha acordado mesmo.

domingo, 12 de abril de 2015

GP da China comprova: a doença da F1 se chama previsibilidade

Imagem genérica que poderia ser usada na cobertura de
qualquer uma das três primeiras corridas
Três corridas, três pódios e três personagens idênticos. Apenas na Malásia houve uma inversão da ordem entre Vettel, Hamilton e Rosberg. Mas, e agora sabemos muito bem, foi absolutamente circunstancial. Nada pode ser mais prejudicial a um esporte do que a previsibilidade e é disso que a Fórmula 1 vem padecendo. Aliás, como disse Fábio Campos numa das edições do excelente Podcast Café com Velocidade, a história vem se repetindo desde 2013: a regra da F1 sempre foi termos duas ou três equipes disputando o título, com pequenas diferenças entre seus carros. A exceção eram aqueles anos em que um time consegue produzir um carro muito melhor, que humilha os outros. E, agora, a exceção parece ter virado regra.

E o GP da China foi um tapa na cara de quem achou que Vettel seria capaz de ameaçar o domínio da Mercedes com frequência. Após o primeiro pit-stop, Hamilton e Rosberg chegaram a perder distância  para a Ferrari, produzindo uma falsa sensação de que Vettel poderia brigar pela corrida. Mas, uma volta antes de parar, quando os pneus deveriam estar em frangalhos, Hamilton fez uma volta quase um segundo mais rápida do que todos os outros, mostrando claramente que estava segurando o ritmo, enquanto Vettel estava se pendurando nas curvas, tirando da Ferrari até mais do que ela poderia dar. Com pneus novos, no último trecho, os prateados foram embora sem dificuldades.

Mas a corrida foi um xarope completo? Só não foi porque tivemos boas disputas envolvendo Ricciardo, Verstappen (é bom o menino!), Nars, Ericsson, Maldonado, Button e Alonso. O venezuelano, por sinal, estava naqueles dias, e chegou a tomar o caminho errado para os boxes, produzindo uma imagem curiosa. E nem assim a transmissão da Globo encontrou uma maneira de tornar a coisa mais vibrante. Mas esse é um tema quero desenvolver melhor essa semana.

A questão é que essas brigas ocorreram da oitava posição para trás. E, principalmente as 6 primeiras posições, foram definidas na primeira volta. A única briga que poderia sair dali, Raikkonen indo à caça das Williams, não aconteceu porque o finlandês fez o serviço logo nas primeiras curvas. E os ingleses levaram uma luneta de quase 30 segundos da Ferrari. Pelo menos Massa conseguiu manter alguma regularidade na corrida, o que possibilitou que ele se mativesse bem à frente de Bottas o tempo todo.

No fim de tudo, a triste conclusão é de que ficaremos dependendo da chuva para termos alguma chance de mudança de ordem nas primeiras posições. Pelo terceiro ano seguido. É muito pouco para quem continua querendo ser a categoria de automobilismo mais importante do planeta.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

É bom ter paciência

Pelas mãos de Bobby Rahal, a Honda chegou à Indy. Mas o resultado...

Neste fim de semana, teremos mais uma chance de conferir como será o desempenho da McLaren nessa nova parcerias com a Honda, que até aqui vem sendo decepcionante. Aliás, pensando nesse início de relacionamento complicado, acabei me lembrando de uma história que pode mostrar a Ron Dennis que o melhor caminho é ter paciência com os japoneses.

Depois de deixar a Fórmula 1 no final de 92, após anos de uma parceria vitoriosa com a mesma McLaren, a Honda voltou seus olhos para uma categoria que vinha crescendo exponencialmente, inclusive para fora dos EUA: a Fórmula Indy.  E para entrar lá, foram logo atrás de uma equipe de enorme estrutura, a Rahal Hogan, cujo dono e piloto principal era Bobby Rahal, tricampeão da Indy, uma das lendas do automobilismo norte-americano. A expectativa era enorme.

Infelizmente, a entrada da Honda na Fórmula Indy não poderia ter sido um fiasco maior. O motor japonês simplesmente não tinha potência para acompanhar os Ford e, principalmente, os Ilmor, que levaram a Penske a dominar a temporada. O auge do vexame aconteceu justamente em Indianápolis: sem conseguir se classificar, Bobby apelou para Roger Penske, que lhe emprestou dois motores Ilmor para que ele pudesse colocar seu carro e o do outro piloto do time, Mike Groff, no grid. Conseguiram e optaram por correr com os Ilmor, deixando a Honda de fora da mais tradicional corrida de automóveis do mundo.

Ao final do campeonato, Rahal terminou com apenas 59 pontos na tabela, em décimo lugar. Com o saco cheio depois de tantas quebras e decepções, o velho Bobby pôs os japoneses para correr, e fechou contrato com a Mercedes-Benz para 95.

Mas a Honda não queria, e nem podia, desistir do investimento e foi atrás de uma estrutura mais modesta para continuar o desenvolvimento do seu motor. E encontrou o que precisava na Tasman, equipe que estrearia na Indy naquele ano, com um carro pilotado pelo também estreante André Ribeiro. O veterano Scott Goodyear pilotaria um segundo carro, em algumas provas.

André Ribeiro e a Tasman acreditaram no projeto, e deram
aos japoneses sua primeira, de muitas vitórias

E começou a virada. Acoplado a um chassi Reynard, e calçando pneus Firestone, o motor Honda formaria o embrião do conjunto que seria sensação da Indy pelos próximos anos. E, já em 95, a Tasman quase venceu em Indianápolis, um ano após não se classificar. Só não conseguiu a vitória, porque Scott Goodyear cometeu um erro de principiante na última relargada, ultrapassando o Pace Car antes que este tomasse o caminho dos boxes (veja no vídeo abaixo). O canadense recebeu bandeira preta, a 20 voltas do final, deixando a vitória no colo de Jacques Villeneuve. Em Michigan, outro super oval, André Ribeiro esteve perto da vitória, mas foi traído pelo câmbio de seu Reynard e abandonou quando liderava com folga.



A primeira vitória viria com o brasileiro, no finalzinho da temporada, no oval curto de New England. No final do ano, uma fila de dirigentes formou-se em frente à sede da Honda, todos querendo ver seus carros empurrados pelo propulsor japonês na temporada seguinte.

E foi a partir de 96, que a Honda disparou na Indy. Equipando os Reynard da Chip Ganassi, os japoneses faturaram os campeonatos de 1996 até 1999, com Jimmy Vasser, Alessandro Zanardi (2 vezes) e Juan Pablo Montoya. A partir de 2000, a Honda juntou-se a Penske e levou Gil de Ferran ao bi-campeonato da categoria.

E a história da Honda na Indy dura até hoje, com diversos títulos e vitórias nas 500 milhas. Ao passo que Bobby Rahal, aquele que desprezou os japoneses, aposentou-se em 1998, sendo que venceu sua última corrida em 1992.

Se Ron Dennis der uma olhada nessa história, vai entender rapidinho que o melhor é dar tempo para que os japoneses trabalhem. Eles não constumam falhar.