quarta-feira, 20 de abril de 2016

Cabeça quente

Nasr x Ericsson: brigar agora não vai ser bom para ninguém

O clima não está nada bom na Sauber, a pior equipe do campeonato após três etapas. O time disponibilizou apenas um carro mais atualizado, que está nas mãos de Marcus Ericsson. Felipe Nasr, o outro piloto, não gostou e pediu que a equipe trocasse seu chassi. Ericsson debochou e disse que topa fazer uma troca de carros com o companheiro, pois sente que está melhor do que ele desde o final do ano passado.

A Sauber está numa draga danada, desde 2014. Poucos patrocínios, pouco dinheiro, pouco desenvolvimento. Numa categoria em que é preciso gastar bilhões de dólares para se ter um desempenho razoável, qualquer equipe em dificuldades para investir vai ter problemas.

Nasr fez uma temporada honestíssima no ano passado, mas em 2016 não vem bem. É difícil julgar desempenho de um piloto num carro tão ruim. Se olharmos para as equipes nanicas que passaram pela F1 nos últimos anos, vamos ver que bons pilotos acabaram sendo queimados por falta de resultados sem que pudessem fazer nada para mudar a situação.

Partir para o embate, numa hora dessas, é bobagem. A Sauber está na iminência de ser adquirida pela Alfa Romeo, o que poderá ser a salvação do time. Pelos resultados deste ano, dificilmente os pilotos da equipe conseguirão contratos melhores para 2017, mas podem convencer os eventuais novos dirigentes a lhes dar uma chance no time, se ele passar a ser controlado pela tradicional marca italiana.

Cabeça fria, na hora crise, pode fazer a diferença.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Pagenaud e Dixon dão aula de estratégia


Muita gente torce o nariz para corridas táticas, mas às vezes é legal ver como alguns pilotos têm uma incrível compreensão da categoria que disputam e a forma como podem galgar posições estratégicamente. Quem viu ao GP de Long Beach, da Indy, no domingo teve um exemplo clássico.

Primeiramente, vamos lá: não aconteceu nada na pista, durante a prova. Ninguém ultrapassou ninguém. Isso já tinha acontecido em Phoenix e, novamente, Felipe Giaffone (melhor comentarista de automobilismo do Brasil, repito) explicou que os pilotos estão enfrentando dificuldades com a enorme pressão aerodinâmica que os kits de Honda e Chevrolet têm gerado. Se for isso mesmo, a Indy precisa dar um jeito rapidamente.

Corrida que não acontece nada não tem espectadores e a categoria americana sempre se diferenciou da F1 por ter muitas brigas na pista. A F1 deu seu jeito, as corridas até aqui estão ótimas.

Mas aí, se não se passa na pista, Scott Dixon mostrou como se faz. Preso atrás de Hélio Castroneves, o neozelandês vislumbrou uma chance quando o brasileiro encontrou um grupo lento de retardatários pela frente. Antecipou sua parada, voltou com pista livre e pisou fundo, usando, inclusive, o push to pass.

Quando Hélio fez seu pit-stop, um trabalho até mais rápido da Penske, perdeu a liderança e voltou muito, mas muito atrás do adversário. Melhor que Dixon fez Simon Pagenaud, que adotou procedimento idêntico e saltou do terceiro lugar para a liderança.

São dois pilotos em ótima forma neste momento, Dixon e Pagenaud, e acredito que podem ser os principais adversários pelo título este ano. Hélio vai apostar na regularidade de sempre e Montoya é sempre aquela incógnita.

A Indy agora segue para o Alabama, onde os carros irão para a pista neste fim de semana. Vamos torcer para que não tenhamos outra corrida de fila indiana.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Rosberg empilha mais uma vitória



Três corridas e três vitórias fáceis de Nico Rosberg. A conclusão: a Fórmula 1 está ótima em 2016. Sim, essas duas frases jamais poderiam estar combinadas, mas a F1 sempre dá um jeito de surpreender quando nada esperamos dela. Apesar do alemão da Mercedes dominar o campeonato com facilidade, tivemos a oportunidade de assistir a três ótimas corridas sendo a da China, no último fim de semana, a melhor delas.

Há várias razões para isso, mas duas são determinantes: primeiro a aproximação entre as equipes de ponta. A Ferrari reduziu a distância em relação à Mercedes e as outras equipes se aproximaram da Ferrari. Na prática, ainda há uma hierarquia entre elas, mas todas estão mais juntas. E a outra razão é o novo regulamento de pneus, que permite ao piloto selecionar três tipos entre os disponíveis para o fim de semana, o que embolou as provas totalmente. Essa última regra deixa corrida, por vezes, confusa demais, mas quem pode reclamar?

Mas vamos ao GP da China, que já começou cheio de confusão. Vários pilotos se tocaram na primeira curva, sendo que a pancada mais grave envolveu Daniil Kvyat, Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen. Vettel acusou o russo da RedBull de abusar da ousadia ao colocar por dentro na curva, tocou no alemão que acertou a outra Ferrari. Depois da prova, Vettel foi tirar satisfações, mas o russo se saiu bem: toque de corrida, vamos parar com a choradeira.

Além disso, os três, Raikkonen, Vettel e Kvyat acabaram fazendo provas sensacionais, se recuperando do toque inicial. Já Hamilton, a outra vítima da primeira curva, ao se tocar com Felipe Nasr não tem muito a comemorar. Ele teve vários problemas durante a prova (largou em último devido a uma troca de motor) e jamais conseguiu um ritmo que pudesse levá-lo além do sétimo lugar. No final, tentou passar Felipe Massa, mas o brasileiro defendeu a posição de forma limpa e não deu chances ao inglês.

Sobre Massa é bom dizer que, finalmente, em seu terceiro ano de contrato, Felipe começa a fazer aquilo que a Williams esperava dele desde o início. O carro da equipe inglesa para este ano é muito ruim e Massa vem fazendo milagre. Estar na sexta posição no campeonato, com 22 pontos, não reflete o que é o carro da Williams, que tem muito menos potencial do que isso. De quebra, Massa ainda está conseguindo andar mais do que Valteri Bottas, o que não esteve nem perto de acontecer nos dois últimos anos.

Por fim, a situação da Mercedes é interessante. Rosberg está em ótima forma e Hamilton não consegue decolar em 2016. Seria muito importante para o campeonato, que o inglês despertasse e corresse atrás do companheiro, mas isso parece difícil. Quero muito ver como vai ficar o psicológico do piloto se a situação continuar assim. A Mercedes vai ter trabalho.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Emerson Fittipaldi


Há alguns dias, quando estourou o caso da falência de Emerson Fittipaldi, um jornalista de um grande portal especializado em corridas pediu que seus seguidores, no Twitter, apontassem quais teriam sido as contribuições do “Rato”para o automobilismo brasileiro. Grande parte das respostas seguia na linha do tradicional “abriu as portas do automobilismo para o Brasil”, respostas essas que o jornalista rechaçou. Segundo ele, realização mesmo, como exemplo, foi a de Felipe Massa, que criou a Fórmula Fiat, há alguns anos.

Hoje em dia, com a mobilidade e conectividade de que dispomos, parece ser difícil entender o que significa esse abrir de portas, que Emerson proporcionou. Afinal, aviões cruzam o oceano em direção à Europa em poucas horas e, de lá, nos comunicamos por video com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, conversando com o interlocutor como se estivéssemos ao seu lado. Mas, no fim dos anos 60, o cara se mandar para outro continente e se meter num esporte que matava quase dois pilotos por corrida era outro papo.

E Fittipaldi foi esse cara, que se mandou para a F1 quando ninguém falava dela no Brasil. Portanto, se hoje falamos em corridas aqui, se temos transmissão ao vivo, se tivemos campeões e vencedores de corrida e, por fim, se é possível mantermos um site só para falar de corridas no país, devemos, sim, a Emerson Fittipaldi. Pode-se questionar sua qualidade como piloto, mas não se pode negar: mesmo que não tenha criado categorias, ou sido o que tenha mais títulos ou vitórias, Emerson Fittipaldi é, sim, o maior e mais importante piloto brasileiro da história. Não creio que haja discussão aqui.

Mas isso não tem nada a ver com a sua vida como empresário. Se Emerson deve a alguém, e ele mesmo já admitiu ter uma dívida de 25 milhões de reais, então tem que pagar. Não tenho pena de quem dá calote nos outros. Pessoas, muitas vezes, dependem desses pagamentos e podem estar em enorme dificuldade por causa da desorganização e desonestidade de quem não paga.

Pena mesmo, tenho da forma como essa situação pode afetar a história do automobilismo brasileiro. As imagens da Copersucar e da Penske #20 sendo recolhidas pela Receita, para pagamento de dívidas, são de cortar o coração.

Neste momento, só posso torcer para que esses carros sejam bem cuidados por quem recebê-los. E, claro, que Emerson honre seus compromissos, para que sua importância inquestionável como esportista não seja apagada.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Vitória de Dixon no sábado monótono de Phoenix


A Fórmula Indy promoveu, no sábado, seu primeiro retorno a pistas tradicionais da categoria este ano: o oval curto de Phoenix, que não recebia corridas da Indy desde 2005, voltou ao calendário para delírio dos fãs. O outro retorno esperado será no dia 26 de junho, na espetacular Elkhart Lake.

Infelizmente, a emoção acabou ficando apenas por conta da nostalgia, porque a corrida em Phoenix acabou sendo bastante monótona. Devido ao excesso de pressão aerodinâmica dessas jamantas da Indy (dado muito bem explicado por Felipe Giaffone, o melhor comentarista de automobilismo do Brasil. Mas já já falaremos disso) os pilotos não conseguiam se aproximar do adversário que ia a frente. Com isso, pelo nas primeiras posições, vimos uma corrida pouco movimentada, com quase nenhuma ultrapassagem.

Assim, os pilotos da Penske, Hélio Castroneves e Juan Pablo Montoya, pareciam ter a corrida na mão. Mas ambos sofreram com o estouro do pneu dianteiro direito. Tanto Helio quanto Montoya mostraram muita habilidade para evitar uma batida no muro, mas suas corridas foram para o beleleu. Com isso, a vitória caiu no colo de Scott Dixon, o atual campeão.

Tony Kanaan foi prejudicado por dois pit stops ruins da Chip Ganassi. Para tentar se recuperar, o piloto antecipou sua parada em algumas voltas e a equipe caprichou, trocando os pneus e reabastecendo rapidamente. Ele poderia assumir a liderança quando os líderes parassem ou, no mínimo, manteria seu terceiro lugar. Mas Ed Carpenter bateu no muro e ocasionou uma bandeira amarela que jogou Tony para a oitava posição. Na relargada, ele saiu passando vários adversários, mas terminou na quarta posição.

No dia 17 de abril a Indy volta a pista, desta vez no tradicional traçado de Long Beach.

Agora, uma palavrinha sobre a transmissão: num momento em que temos  tantos profissionais que já deixaram de ser jornalistas para se tornarem entidades da TV, que não narram lances e sequer compreendem o que está ocorrendo na pista, é um alento assistir a uma transmissão comandada por Téo José e Felipe Giaffone.

O primeiro é, na minha opinião, o melhor narrador de automobilismo do país. Sóbrio, discreto e atento aos movimentos da pista, Téo é um narrador que narra. Se tem uma ultrapassagem, ele a transmite com a emoção que o lance pede. Nada demais, nada de menos.

E Giaffone merece todos os méritos, por ser um comentarista técnico. Ele pode não ter o traquejo para falar ao microfone, mas faz algo que nos desacostumamos: explica, de forma técnica, o que está acontecendo na pista, colocando sua experiência a favor da transmissão.

Não há que se parabenizar a Band, porque sabemos que a prova só foi transmitida por ter sido disputada no sábado a noite. Mas se mantiver a dupla Téo José /  Felipe Giaffone nas transmissões do Bandsports, a emissora já estaria ajudando bastante.

domingo, 3 de abril de 2016

Rosberg vence em Sakhir e abre vantagem no campeonato

Rosberg foge na largada, seguido por Massa, enquanto
Hamilton e Bottas se enroscam. 

Duas conclusões imediatas podem ser tiradas após o GP do Barhein, disputado hoje em Sakhir: 1) Lewis Hamilton precisa abrir os olhos se quiser brigar pelo título. 2) A Williams é uma vergonha em termos de estratégia. Talvez a pior equipe de box da história da Fórmula 1. Mas, vamos por partes.

A corrida já começou com um enorme anticlimax: o motor da Ferrari de Sebastian Vettel virou fumaça logo na volta de apresentação, tirando o alemão da disputa pela vitória antes mesmo do início da corrida. Sem ele, a prova começou com mais uma largada horrível de Hamilton, que anda se estranhando com o controle de largada da Mercedes. Em compensação a Williams partiu de forma espetacular, com Bottas e Massa atacando. O finlandês acertou Hamilton na primeira curva e, claro, foi punido mais tarde na prova. Já o brasileiro, aproveitou-se da confusão para subir para o segundo lugar.

Algumas voltas mais tarde, Raikkonen começou a atacar e passou Riccardo e Bottas, com duas manobras espetaculares (a ultrapassagem sobre o australiano já é candidata a mais linda do ano). E, na nona volta, começou o show de horror no box da Williams. Com seus pneus super macios destruídos, Massa entrou nos boxes e trocou para a borracha média. O plano? Fazer uma parada a menos do que os outros.

Poderia funcionar, mas quando os adversários fizeram suas paradas e voltaram para a pista, percebeu-se que a Williams #19 chegava a ser quase três segundos mais lenta. Por mais que se pare uma vez menos, é preciso ter um ritmo razoável, ou a estratégia não se paga. E o que fez a genial Williams, na segunda parada do brasileiro? Colocou os mesmos pneus. Ora, se em uma corrida de quase 60 voltas, lá pela 15ª você percebe que não vai funcionar, você ainda tem mais de 40 voltas para mudar os planos. Mas a Williams é impressionantemente conservadora e ineficaz nos boxes e, de um segundo e terceiro lugares na primeira volta, recebeu a bandeirada com Massa em oitavo e Bottas em nono. Um resultado que, por si só, explica porque a equipe não conseguiu ainda converter o crescimento obtido a partir de 2014 em vitórias.

Mas, Williams à parte, o GP do Barhein acabou sendo recheado de boas atuações e brigas bonitas de se ver. E o destaque, mais uma vez, foi Romain Grosjean e a espetacular estreante Haas, que terminaram na quinta posição, mantendo-se na pista sempre com pneus supermacios e fazendo várias ultrapassagens. É bom as grandes abrirem o olho com esses americanos.

Mais a frente, Rosberg manteve-se sempre com boa diferença sobre Raikkonen. Mas, mais uma vez, chamou a atenção o quanto a Ferrari tem um ritmo de corrida parecido com a Mercedes. Fico na dúvida se o Nico não teria tido mais trabalho se Vettel pudesse ter tido a chance de largar para a corrida.

Enquanto isso, Hamilton se recuperou como pôde do toque na primeira curva, mas não conseguiu passar do terceiro lugar. Está 17 pontos atrás de Rosberg, que este ano parece determinado a buscar seu primeiro título. Talvez, 2016 nos traga a briga que 2014 e, principalmente, 2015, ficaram nos devendo.

Fechando a os 10 primeiros, Stoffel Vadoorne, que substituiu Fernando Alonso nesta corrida e marcou os primeiros pontos da McLaren no ano. Grande atuação do belga.

Até agora, a Fórmula 1 proporcionou corridas movimentadas, o que é uma ótima notícia depois da temporada horrorosa que tivemos no ano passado. Vamos ver se foram obras do acaso, ou se teremos mesmo um ano mais empolgante. A categoria estará de volta, daqui duas semanas, na China.