domingo, 25 de maio de 2014

Guerra na Mercedes é boa pra quem acompanha


Até agora eu não consegui decidir se acho que Nico Rosberg saiu da pista de propósito ou não no sábado, atrapalhando a volta rápida de Lewis Hamilton e garantindo a pole para a corrida de hoje. Se fez de caso pensado, fez um trabalho bem feito. E fez muito bem. Um campeonato como este será decidido em detalhes e, pela reação destemperada de Hamilton após o treino e na corrida, fica claro que o inglês sentiu o golpe.

Há uma guerra na Mercedes e nós agradecemos. Ora, se um campeonato será de uma equipe só, que os pilotos desta equipe briguem entre si, nem que pra isso seja necessário que se tornem inimigos. Ali não tem mais espaço pra jogo de equipe nenhum, e isso é bom para o campeonato. E Rosberg,  caso tenha mesmo feito de propósito, mostra que sabe onde atacar o companheiro. Será interessante acompanhar o desenrolar dessa história.

Como eu havia dito na sexta feira, é sempre bom acompanhar o GP de Mônaco porque é lá que podem acontecer os imprevistos e eles aconteceram. Não na ponta, como em outras vezes, mas no pelotão intermediário. Os pilotos da Sauber, por exemplo, encontraram o guard-rail em momentos distintos. As duas Toro Rosso tiveram problemas mecânicos e foram seguidos por Bottas. Perez foi acertado por Button, na primeira volta.

Tudo isso proporcionou a Felipe Massa um ótimo resultado, chegando em sétimo lugar depois de largar em 16º. O brasileiro fez um bom trabalho mantendo-se na pista com pneus macios até bem além do limite, o que lhe possibilitou parar e voltar em 11º. Se não foi brilhante, tampouco foi um vergonha como na Espanha, e estes pontos são importantes para dar uma sacudida em Massa e levar o brasileiro a uma posição mais digna na tabela. Que comece o campeonato para ele.

Cabe uma menção pra lá de honrosa a Jules Biachi, que levou a Marússia aos pontos pela primeira vez, com um nono lugar. Um resultado espetacular para a equipe, que é a primeira das que estrearam em 2010 a pontuar. E também vale ressaltar o desempenho de Kimi Raikkonen, que começa a andar no ritmo de Fernando Alonso. Não tivesse sido acertado por Chilton hoje, teria chegado ao pódio.

Rosberg voltou a liderança da tabela, mas Hamilton está mordido e não dará mole. Tomara que não mesmo. Quem sabe não está aí a salvação do campeonato?

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Para relembrar: Mônaco

Panis comemora sua única vitória na F1: última da Ligier e da França

É sempre bom assistir o Grande Prêmio de Mônaco porque se tem uma corrida favorável ao aparecimento de zebras, é essa. Também pode ser uma corrida chata e previsível, mas um circuito tão estreito, antigo e incompatível com a Fórmula 1 atual pode gerar muitos incidentes e mexer de forma significativa no resultado.

São vários exemplos de corridas assim e uma das que mais me lembro foi a edição de 1996. Schumacher, que ainda não havia vencido nenhuma corrida na Ferrari, fez a pole. Na largada, com pista molhada, vários pilotos se embolaram na primeira curva e saíram fora. Schumacher escapou deste acidente mas, algumas curvas adiante, bateu sozinho e abandonou antes de completar o primeiro giro.

Assim, sucessivamente, vários pilotos iam abandonando por motivos diversos. A corrida estava nas mãos de Damon Hill mas, na saída do túnel, o motor Renault de sua Williams o deixou na mão. Fim de prova para o piloto que queria muito vencer no circuito onde seu pai havia ganhado cinco corridas.

Quem aparecia na ponta então era Jean Alesi. Tudo pronto para a segunda vitória da carreira do francês, mas a suspensão de sua Benetton quebrou e ele também teve que abandonar.

Nesse ponto, apenas oito pilotos estavam na pista. Foi aí que Eddie Irvine bateu, parou no meio da pista e levou junto Mika Hakkinen e Jacques Villeneuve. Mika Salo também foi envolvido e abandonou.

Após tudo isso, apenas quatro pilotos cruzaram a linha de chegada, com Olivier Panis em primeiro, David Couthard em segundo, Johnny Herbert em terceiro e Heinz Harald Frentzen em quarto. Após duas horas de prova, Panis obteve sua única vitória na Fórmula 1. Foi também a última vitória da equipe Ligier e o derradeiro triunfo da França na categoria.

Quem sabe uma confusão dessas não muda o resultado da corrida este fim de semana?

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Primeira parte cumprida. E o resto?

Massa ajudou no ressurgimento da Williams. Falta agora trabalhar para si mesmo

A pré-temporada realizada pela Williams suscitou muitas expectativas em quem acompanha a Fórmula 1. Com um carro rápido, bonito e conduzido por uma boa dupla de pilotos, a equipe estaria pronta para se tornar, novamente, uma das grandes da Fórmula 1?

Bem, vamos analisar por partes. Houve um claro exagero de todos os jornalistas (eu, inclusive) sobre o que poderia fazer a equipe inglesa neste ano. A Williams não vai ganhar corridas, como achávamos. Talvez nem ao pódio suba.

Mas isso não deve camuflar a evolução da equipe, que é extraordinária. Estamos falando de um time que, em 2013, mal passava do Q1 nas classificações. Nesta temporada, a Williams vem frequentando o grupo dos dez carros mais rápidos com seus dois pilotos, o que é incrível.

É um resultado direto dos investimentos feitos em todos os setores, com a contratação de profissionais experientes e renomados. É também fruto da associação com a Mercedes e, sim, da chegada de Felipe Massa. A contratação do brasileiro foi um investimento de peso da equipe, que queria um piloto experiente, com anos de rodagem em equipe grande e que precisava de uma chance para liderar um projeto. Felipe era este cara. E os resultados obtidos pela equipe devem, em alguma parcela, ser creditados à chegada do brasileiro no time.

Isso é uma coisa. A outra coisa são os resultados individuais de cada piloto, e aí o negócio complica. Da mesma maneira que havia expectativa em torno da Williams, havia expectativa em torno de Felipe Massa. Afinal, conseguiria ele se reerguer e mostrar os bons resultados dos primeiros anos de Ferrari, antes da chegada de Fernando Alonso?

Até aqui, Massa está 22 pontos atrás de Valteri Bottas, finlandês que estreou na Fórmula 1 onze anos após o brasileiro começar na Sauber, em 2002. Sim, Massa teve problemas (em Xangai, com um pit-stop desastrado e em Melbourne, com um Kobayashi desastrado), mas quando chegou à frente de Bottas, foi por milésimos. E ainda tivemos a Malásia, na qual ele precisou desobedecer uma ordem de equipe para deixar o companheiro ultrapassá-lo. Ou seja, Bottas estava efetivamente mais rápido.

O que nos traz ao GP da Espanha, onde Felipe Massa fez uma corrida medíocre, que lembrou seus piores tempos de Ferrari. Lento, burocrático e nada agressivo, Felipe desgastou seus pneus acima da média, mesmo virando tempos mais altos do que a maioria de seus adversários. Tem alguma coisa muito errada quando alguém anda mais devagar e, ainda assim, precisa parar mais vezes para substituir a borracha. Sua explicação ao final da corrida era tão frágil, que ele mesmo parecia não acreditar muito no que estava dizendo.

Se a primeira etapa de seu contrato com a Williams foi cumprida, agora é hora de mostrar na pista e retribuir a confiança que a equipe depositou nele. E mais: se levar mais surras de Valteri Bottas, como a que levou na Espanha, ficará difícil desobedecer outra eventual ordem de equipe. E, ser segundo piloto de Bottas, será a última pá de terra na sepultura da carreira do brasileiro.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Respeitemos o cara


O esporte costuma ser cruel com seus ídolos. É preciso um enorme esforço para construir uma boa reputação, anos e anos de trabalho duro e muitos resultados. Mas basta um deslize, um desempenho ruim, qualquer coisinha, para que toda essa reputação caia por terra. Países extremamente passionais como Brasil e Itália, por exemplo, são mestres em destruir ídolos por aí.

Semana passada, por exemplo, tivemos homenagens e mais homenagens a Ayrton Senna, em virtude dos 20 anos de sua morte. Sim, agora ele é um ídolo intocável, mas quem esteve em Interlagos em 1994 ouviu e, provavelmente, participou da vaia que o piloto levou quando rodou com a Williams, ao perder a traseira na junção. Assista ao VT da corrida e veja várias e várias pessoas indo embora depois que "seu" piloto abandonou a corrida.

O que nos traz a Sebastian Vettel. A única coisa que o cara faz desde 2010 é vencer corridas e campeonatos. Mas basta um início de ano problemático para que comecemos a questionar seu talento. Se o companheiro de equipe estiver mais rápido então, aí sim é que pegamos no pé.

Pois Vettel mostrou, neste fim de semana em Barcelona, que não se é tetracampeão a toa. Largou em 15º lugar, depois de enfrentar milhares de problemas mecânicos, e terminou na quarta posição, fazendo três paradas contra duas da maioria dos pilotos. Com direito à uma ultrapassagem de mestre no final da corrida, sobre Valteri Bottas, outro que brilhou no fim de semana.

As pessoas dizem que Vettel só ganhou tanto porque tinha o melhor carro, o que acho um argumento de uma pobreza inigualável. Ora, ele chegou à RedBull em 2009, com a equipe se estruturando, e não se pode dizer que não participou da construção deste "melhor carro". O fato de ter um equipamento superior, se deve ao seu trabalho também. Como foi Schumacher, na Ferrari. Pegar uma equipe estruturada, com um foguete na mão e ganhar campeonato é outra história. É o que fez Senna em 88, por exemplo.

A RedBull tem, agora, uma dupla de pilotos respeitável, com Vettel e Ricciardo. Infelizmente, não serão capazes de deter o domínio das Mercedes, mas poderão dar graça no pelotão intermediário de um campeonato que caminha para uma decisão rápida e previsível.

Em tempo: o Globo Esporte, programa esportivo da emissora que detém os direitos de transmissão da Fórmula 1, anunciou o resultado da corrida, mas não mostrou imagens da mesma. Estamos caminhando para uma perda de espaço irrecuperável na TV aberta. E sim, tem a ver com o desempenho sofrível de Felipe Massa. Falaremos disso ainda essa semana.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Para relembrar: Espanha

Mansell e Senna inauguram a reta de Barcelona em grande estilo

Quando chega a época do GP da Espanha, os fãs de Fórmula 1 dão aquele bocejo preguiçoso. O traçado de Barcelona permite poucas ultrapassagens, a maioria dos testes da F1 são feitos por lá e, com isso, todos conhecem cada centímetro do asfalto. Ninguém erra. É uma corrida absolutamente previsível.

É uma pena, já que seu cartão de visitas foi dos melhores. A primeira corrida disputada no traçado de Montmeló foi em 1991. Até então, o GP da Espanha era disputado em Jerez de la Frontera, mas a Fórmula 1 já pedia um autódromo moderno e com alto grau de segurança. Ele foi construído em Barcelona.

A corrida inaugural já vinha com um plus: caso chegasse à frente de Nigel Mansell, Ayrton Senna se sagraria tricampeão. A corrida, disputada no final do ano, foi realizada sob um clima instável. Hora chovia, hora secava, e foi assim que Barcelona assistiu à um pega espetacular entre os dois postulantes ao título.

Precisando chegar à frente do rival, Senna mandou à frente o número dois da McLaren, Gerhard Berger. O brasileiro se encarregaria de segurar Mansell, mas ele deve ter se esquecido de que seu rival era o Leão.
Sentado no fabuloso FW14, Mansell foi com tudo para cima das McLaren e jantou Senna na reta, numa imagem que se tornou famosa (veja no vídeo abaixo, mais ou menos aos 9minutos). Os dois desceram o retão principal quase encostando roda com roda e levou a melhor na freada.

Depois, mergulhou na curva três deixando Berger sem ação. Mansell assumiu a liderança e partiu para a vitória, uma das mais fantásticas da sua carreira. A melhor, eu diria. Senna ainda acabaria rodando sozinho e terminando apenas na quinta posição.

O título seria decidido na corrida seguinte, no Japão. Desta vez, Senna levaria a melhor.



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Um blogueiro sem recursos



Vinte anos da morte de Ayrton Senna. Basta ligar a televisão, ouvir o rádio, navegar na Internet, enfim, estar acordado, para ver documentários, corridas históricas, ler textos maravilhosos, emocionantes, testemunhais. Gente que conviveu com o piloto, que compartilhou da sua gana por vitórias e títulos, que esteve com ele em Ímola, no fim de semana mais trágico da história do automobilismo. Tem material para todos os gostos, alguns excelentes, outros nem tanto. Mas basta saber escolher e relembrar uma carreira fantástica e um dos eventos midiáticos mais incríveis da história.

Mas o que resta a um blogueiro independente e de poucos recursos orçamentários? Bem, eu poderia escrever contando como foi meu dia, em 1º de maio de 1994. Mas tinha apenas 14 anos e vi a corrida como qualquer pessoa. Não creio que isso interesse a alguém. Não conheço ninguém que já tenha tido algum contato pessoal com Senna e nem que tenha estado em San Marino, naquele dia, o que torna impossível trazer para este blog um relato sobre como era pesado o clima no circuito.

Vamos especular então sobre as causas do acidente? Bobagem. O inquérito não concluiu nada, mas não precisa de inquérito. Qualquer um pode ver as imagens da última volta antes da batida e ver como o volante do FW16 estava solto nas mãos de Senna. Achar que aquela barra de direção não se partiu e levou o carro direto para o muro, para mim, é delírio.

Como sou um torcedor de arquibancada fiquemos com elas, as arquibancadas. Há alguns dias descobri, no Youtube, os dois vídeos abaixo:

 


Na hora em que descobri, imaginei que tinha conseguido um furo histórico, imagens raríssimas, ganharei o Pulitzer. Bem, um dos vídeos tem mais 4 milhões de visualizações o que prova que, além de pretensioso, sou burro. Mas, ainda assim, aqui estão eles.

Quando Senna corria, mal havia celulares, as câmeras digitais não existiam e, por isso, é dificílimo encontrar imagens do piloto diferentes das que já conhecemos pela televisão. Se alguém tiver filmado uma corrida de Senna em Interlagos terá que procurar a fita, mandar digitalizar e subir para o Youtube.

Esses caras que fizeram estes vídeos tiveram este trabalho. Filmaram, da arquibancada, os últimos momentos de um dos grandes pilotos da história da Fórmula 1. Um deles estava na curva Tosa (onde Ratzenberger morrera no sábado) e o outro na chicane Acque Minerali.

Eles acordaram cedo, foram para o autódromo, devem ter comprado lembranças da corrida, enfrentaram filas e curtiram aquele clima que só quem já foi a Interlagos ou a qualquer autódromo do mundo, sabe que existe e o quanto é bom. É possível que eles só tenham se dado conta da gravidade do evento que presenciaram quando chegaram em casa.

Esta é a homenagem mais sincera que acho que posso oferecer aqui no blog. A visão de quem teve o privilégio de testemunhar, da arquibancada, a última corrida de um dos maiores da história do automobilismo.