domingo, 31 de agosto de 2014

Aprendendo a andar em círculos

Power x Hélio em Fontana: australiano supera deficiência em ovais
e é campeão da Indy

Will Power finalmente conseguiu seu primeiro título na Indy, depois de anos tentando e batendo na trave, graças à sua própria incompetência nos circuitos ovais. A Fórmula Indy oferece este tipo de alternativa: às vezes um piloto talentoso não se dá bem correndo em círculos e acaba não conseguindo sucesso na categoria. Esse parecia ser o destino de Power mas, neste fim de semana, em Fontana, ele mudou a escrita.

E mudou porque fez uma prova de gente grande. Largando na última fila, viu seu principal adversário, Hélio Castroneves, sair na pole. Era o prenúncio de uma decisão emocionante que acabou, infelizmente, sendo bem morna. Power, com muita paciência, veio ganhando posições uma a uma enquanto Helinho não conseguia desgarrar na ponta. O brasileiro, que sabe como ninguém como ganhar uma prova de 500 milhas, parecia estar guardando equipamento para o final. Mas um erro bobo na entrada dos boxes gerou uma punição e pulverizou as chances de Helio conseguir seu primeiro título. Ficou com o vice campeonato e completou a dobradinha da Penske na tabela, algo que não acontecia desde 1994, quando a equipe terminou o ano com Al Unser Jr. campeão e Emerson Fittipaldi vice.

A corrida de Fontana foi vencida por Tony Kanaan, uma vitória importante do brasileiro, que enfrentou um ano difícil na sua nova equipe, a Ganassi. Acredito que essa vitória dará ânimo extra ao brasileiro para que ele entre 2015 com chances na disputa pelo título. Talento não lhe falta.

Quanto a Hélio Castroneves, é uma pena que não tenha conseguido, mas foi apenas a repetição de um filme que já conhecemos. Particularmente, considero-o um bom piloto e nada mais. Há anos que ele começa o ano bem e, na hora da decisão, acaba sendo superado por algum adversário. Mas tem muita moral na Penske, o que deve lhe garantir mais alguns anos de contrato com uma das melhores e mais tradicionais equipes da Indy.

Gostei do ano da categoria, a Indy vem tentando criar atrativos e é inegável a criatividade dos dirigentes. É uma categoria que carece de um pacote técnico mais variado e tem alguns pilotos de qualidade duvidosa. Mas alguns traçados são absurdamente mais desafiadores do que os da Fórmula 1, as corridas não são nada previsíveis e, claro, temos Indianápolis.

Quem sabe em 2015, com Kanaan e Castroneves fortes, não voltamos a ter um brasileiro campeão por lá? A chance é grande.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Mercedes cavou o buraco


Rivalidades entre companheiros de equipe não são exatamente incomuns no mundo do automobilismo. Com carros iguais, pilotos que nem sempre são do mesmo nível costumam se engalfinhar na pista com alguma frequência. O que muda é a forma com que cada equipe lida com essas disputas.

Em 88 e 89 a McLaren deixou o pau comer entre Senna e Prost, até porque sabia que nenhum deles obedeceria nenhum comando. Viu os dois serem campeões, cada um em uma temporada. Quase 20 anos depois, a mesma McLaren mudou a postura no caso Alonso x Hamilton e partiu para a briga contra o espanhol, uma situação que eu nunca tinha visto. E acabou perdendo o campeonato de 2007, um ano em que tinha o melhor carro, e dois grandes pilotos.

Em 2010 foi a vez da Red Bull ter de contornar os problemas entre Webber e Vettel. E conseguiu, pelo menos, manter as aparências na base do bom humor, bem ao estilo dos austríacos.

O que nos traz a 2014 e ao duelo Hamilton x Rosberg, que a cada corrida atinge um novo patamar. Na Bélgica veio o primeiro toque entre eles, Hamilton teve um pneu furado e Rosberg perdeu o primeiro lugar ao ser obrigado a trocar a asa dianteira. De dobradinha certa da equipe a vitória de Daniel Ricciardo, um dos nomes do ano na Fórmula 1.

Depois da corrida, reunião e toda a equipe se volta contra Rosberg que, segundo quem estava neste encontro, admitiu ter batido de propósito. Algo que ele não confirmou para a imprensa.

Acho impossível que Rosberg tenha batido de propósito. Ninguém consegue ser tão cirurgico a 300 por hora, a ponto de encostar sua asa dianteira no pneu do carro da frente daquela maneira. Se pegasse roda com roda, poderia haver um capotamento. Mas, é bom lembrar, a reunião ocorreu logo depois da corrida, todos estavam de cabeça quente. Não acho difícil que Rosberg tenha sido colocado contra a parede e, furioso, tenha dito que bateu de propósito mesmo e que se dane.

Este novo capítulo só mostra que a Mercedes está bem perdida. Como pode Toto Wolf admitir que um piloto acertou outro de propósito e  a única providência que toma é anunciar que agora as ordens de equipe serão mais rígidas? Quem vai obedecer? Se estiverem faltando 10 voltas para acabar o GP da Itália, Nico estiver em primeiro com Lewis perto dele, o diretor vai pedir que mantenham as posições? E Hamilton vai obedecer isso? Tá aí uma coisa que eu quero muito ver…

A Mercedes cavou um buraco quando resolveu tratar publicamente uma crise que é interna. Desde Mônaco eles já não são um time, são dois, um lutando contra o outro. Resolver isso com ordens de equipe definitivamente não é a melhor solução e quem vai comendo pelas beiradas é a Red Bull. Teremos uma segunda metade de temporada das mais interessantes.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Mais juventude, menos experiência


Geralmente, no intervalo entre os GP`s da Hungria e da Bélgica a Fórmula 1 enche os noticiários com boatos e confirmações sobre a troca de pilotos para a próxima temporada. Foi neste período, em 2013, que surgiram as primeiras informações da troca de Felipe Massa por Kimi Raikkonen na Ferrari.

Este ano a coisa estava mais morna, até que a Toro Rosso soltou um comunicado ontem, confirmando que Max Verstappen vai estrear na equipe em 2015, no lugar de Jean Éric Vergne. O filho de Jos Verstappen, que correu na F1 nos anos 90, vai completar 17 anos em Setembro. E sera o mais jovem piloto a correr na maior categoria do automobilismo.
Max é filho de Jos Verstappen,
que correu na Benetton em 94

Max está na Fórmula 3 europeia e, claro, deve ser muito bom piloto. Mas não tenho como comentar com profundidade pois não acompanho esta categoria. Apenas posso dizer que a experiência vem valendo cada vez menos na Fórmula 1.

Aquela velha receita, de juntar um jovem estreante, a um veterano na mesma equipe, para que o fedelho em questão possa “aprender os atalhos” já não vale de nada. E não vale porque esses garotos já chegam muito preparados, essa que é a verdade. Basta ver que, neste ano, Jenson Button vem tendo vida difícil contra Kevin Magnussen, e Felipe Massa está tomando uma surra acachapante de Valteri Bottas. Em 2011, Pastor Maldonado (vejam só…) aposentou Rubens Barrichello, na Williams. Trabalho que tinha sido iniciado por Nico Hulkenberg, um ano antes.

Pessoalmente, acho que o esporte em geral vem preconizando cada vez mais a ascensão de atletas ao topo das modalidades. Basta ver o futebol, e a forma como os clubes europeus carregam garotos de 9 ou 10 anos para jogar em Barcelona ou Madri, pagando salários altíssimos e dando a eles uma vida cheia de mordomias.

Um cara de 17 anos ainda não tem cabeça para chegar ao topo da carreira (e a F1 é o topo da carreira de um piloto), ganhar um salário milionário e acelerar um carro de Fórmula 1 em circuitos espalhados pelo mundo. É preciso ralar um pouco, passar aperto, provar que merece chegar lá não apenas por ser rápido em sentar e enfiar o pé no acelerador, mas porque sabe que a vida não é fácil, e é preciso dar valor àquilo que se conquista.

Quem tem 17 anos, ainda não sabe. Mas, é um caminho sem volta, este que o esporte tomou. Portanto, nos resta a curiosidade de ver o comportamento do piloto quando tivermos a largada para a primeira corrida de 2015.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Mundo estranho



Terça feira à noite. No site da Revista Quatro Rodas, um furo: a Globo não transmitirá mais a Fórmula 1 a partir de 2015. É uma notícia bombástica, claro, são mais de 40 anos de transmissão da categoria em TV aberta e milhões de reais em cotas de patrocinadores, certamente interessados em renovar para o próximo ano.

A repercussão começa na Internet, redes sociais e blogs. O link com a notícia sai do ar. No intervalo da novela das 9, um dos espaços publicitários mais caros que existem, a Globo coloca uma vinheta de Fórmula 1, estampando a marca de todos os patrocinadores e o texto: “Fórmula 1 é só aqui na Globo”. Hoje a  notícia volta ao site da Quatro Rodas, mais amena e com a negativa da emissora, dizendo que a transmissão segue normalmente em 2015.

Vivemos num mundo bem estranho. O jornalista da Quatro Rodas, Marcos Sérgio Silva, certamente tem informações privilegiadas que o levaram a publicar a notícia. É certo que a não transmissão foi ventilada pela emissora. Mas o que o levou a mudar? Certamente, também, a pressão da próprio Globo, que deve ter sido bombardeada pelos patrocinadores e até por gente da FOM, que negocia os direitos da F1. Por isso a Globo levou ao ar uma chamada solitária da F1 no meio da sua novela. Imagino que celulares devem ter tocado bastante na noite de ontem. É o mercado publicitário mandando no Jornalismo, como vem acontecendo cada vez mais. Você tem a informação, mas pode se comprometer por publicá-la. Se for num site de uma grande empresa então, como a Editora Abril, nem pense nisso.

De qualquer maneira, não nos assustemos. A Fórmula 1 vai sair da grade da TV aberta em breve e, com essa notícia, talvez tenhamos que pensar em uma brevidade ainda maior. Talvez no ano que vem, mesmo. E o motivo é simples, como já debatemos: a F1 não é um produto adequado para a TV aberta.

A última vitória de um brasileiro por lá foi em 2009. Nosso único representante está em má fase há pelo menos quatro anos e não há nenhum indício de que teremos alguém em condições de resgatar o interesse do grande público, que quer ver mesmo esportes nos quais os brasileiros ganham.
Deixemos a F1 para quem entende, compreende e gosta dela de verdade. Sem dramas.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Show


A Stock Car voltou a Goiânia para realizar a já tradicional Corrida do Milhão. Evento simples, sem rodada dupla complicada. Solta os pilotos na pista, obriga a parar pelo menos uma vez para trocar pneus, e ganha quem é mais rápido.

Como eu disse aqui, a Stock Car com uma formula simples, é uma boa categoria. O resultado das regras simples da prova de ontem foi notório: uma grande corrida, com uma vitória irretocável de Rubens Barrichello, que aliás, já vinha merecendo ganhar uma corrida há algum tempo. A disputa entre ele e Thiago Camillo, nas últimas voltas, foi um dos grandes momentos do ano no automobilismo.

A Stock tem o ouro nas mãos: bons pilotos, alguns bons autódromos (este de Goiânia é espetacular) e patrocinadores fortes por trás. Administrando bem tudo isso, não tem como dar errado.