segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A vitória da inteligência

Nico e Keke Rosberg: títulos parecidos
Não foi pouco o que Nico Rosberg conseguiu em 2016. Sagrar-se campeão, depois de dois anos perdendo para o companheiro de equipe é algo raríssimo no automobilismo. Em geral, pilotos mais lentos tendem a ser relegados ao posto de segundo piloto inapelavelmente, quando têm um companheiro de equipe mais rápido. E Lewis Hamilton é, sem dúvidas, mais rápido do que Rosberg.

Mas o alemão foi inteligente. Soube jogar com os erros e azares do adversário, teve regularidade e o principal: demonstrou entender muito bem do que é feita a Fórmula 1 atualmente. Para exemplificar isso, destaco o GP da Europa, em Baku. Os dois carros da Mercedes tiveram o mesmo problema, em um dos seus inúmeros softwares. Na época, estava em vigor a ridícula regra da censura na comunicação entre pilotos e equipes. Sozinho no cockpit, Nico solucionou o problema. Lewis não. O resultado: o alemão em primeiro, o inglês em quinto.

Não gosto nem um pouco de uma categoria de automobilismo na qual a pilotagem fica em segundo plano para o domínio da tecnologia. Mas acho sensacional quando um piloto compreende a essência do esporte no qual está e, mesmo sem ser o melhor, consegue driblar os adversários. Assim, Rosberg foi campeão vencendo menos corridas do que Hamilton. Ele é o segundo filho de campeão do mundo a ser tornar campeão também. E vejam só: seu pai, Keke, foi campeão pela Williams vencendo apenas uma corrida em 1982, justamente o GP dos Estados Unidos, a última prova do ano.

A rivalidade entre Lewis e Nico salvou a temporada de 2016 da F1, a terceira consecutiva dominada pela Mercedes. Mas, apesar de adversários, a briga entre eles se dá de forma peculiar. Sim, eles se encontraram na pista na Espanha e na Áustria (o melhor momento da temporada), mas em geral revezam vitórias. Rosberg começou melhor mas Hamilton virou o jogo. Aí o alemão reagiu, emendou mais uma série de triunfos e se colocou na condição de favorito. A partir daí, se dedicou a comboiar o companheiro nos GP's, sem correr riscos. Não sei dizer se essa é uma briga super empolgante. Acho que não.

E o GP de Abu Dhabi acabou sendo uma vitrine do que a F1 tem demonstrado a três anos: a Mercedes tem um carro tão superior, que os caras fazem o que querem na pista. Hamilton correu segurando o ritmo para que os adversários chegassem em Rosberg, já que essa era sua única chance de ser campeão. O cara abria do adversário antes das zonas de abertura de asa e depois segurava na parte mais lenta. Ou seja: os caras da Mercedes brincam de correr como querem. Isso não é bom para o esporte.


Ano que vem teremos novo regulamento e espero que as outras equipes cheguem mais perto. Essa dança de dois já está enchendo o saco. 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Sem BB e sem brasileiros

Em sua melhor corrida, Nasr garantiu 40 milhões para a Sauber em 2017.
Pode não ser suficiente.

O futuro do Brasil na F1 vai ficando cada vez mais sombrio. No final da semana passada o Banco do Brasil confirmou a retirada do patrocínio da Sauber, ficando apenas como apoiadora da carreira de Felipe Nasr. Porém, com um valor muito menor: estima-se que a instituição destinava cerca de 15 milhões de euros ao projeto da Fórmula 1. Este valor será reduzido para cerca de 5 milhões.

Primeiramente, vamos ser sinceros: no meio de uma crise financeira como a que o Brasil está passando, é um absurdo que uma empresa estatal destine um valor desses para bancar a carreira de um esportista em uma modalidade cada vez mais voltada para bilionários. O BB anunciou ontem que vai fechar 402 agências em todo o país e oferecer um plano de demissão voluntária. Ou seja, pessoas que se esfolaram para passar em um concurso público ficarão desempregadas. Não há nem que se falar em F1, ou qualquer esporte. Aliás, faria muito bem a Caixa se também retirasse os patrocínios aos clubes de futebol no Brasil.

Voltando à Fórmula 1, complica-se bastante a situação de Nasr na Sauber. A equipe suiça anunciou a renovação de contrato de Marcus Ericsson. Na disputa pela segunda vaga, além de Nasr, estão Esteban Gutierrez e Pascal Wehrlein. O mexicano tem muito dinheiro. O inglês tem o apoio da Mercedes e Toto Wolf já sondou Monisha Kaltenborn sobre a possibilidade de colocar seu pupilo no time suiço. Com isso, Nasr ainda poderia tentar alguma coisa na Manor.

A situação da Sauber é um retrato fiel do que é a F1 atual. Felipe Nasr pode não ser brilhante, mas desde que estreou foi o responsável pelos grande momentos da equipe na categoria. Com os dois pontos obtidos em Interlagos, o brasileiro praticamente garantiu a metade do orçamento do time para 2017, com a premiação de 40 milhões de dólares que a equipe receberá pela décima colocação no mundial.

Quer dizer, o cara consegue grana para a equipe na pista, mas não tem grana fora dela. E a equipe prioriza a grana que consegue de fora, no caso, com o sueco Marcus Ericsson, um piloto bem limitado tecnicamente.

O fato é que estamos bem próximos de uma situação a qual não estamos habituados: desde a estreia de Emerson Fittipaldi, em 1970, o Brasil sempre contou com pelo menos um representante na categoria principal do automobilismo. Isso está bem próximo de acabar.

domingo, 13 de novembro de 2016

Vale como vitória



Pode parecer que não, mas o que Felipe Nasr fez hoje, em Interlagos, significa muito. O nono lugar do brasileiro representam os primeiros dois pontos da Sauber no campeonato e fazem com que a equipe supere a Manor na classificação. Se nada anormal ocorrer em Abu Dhabi, e não vai ocorrer porque Abu Dhabi é muito previsível, a equipe garante cerca de 13 milhões de dólares na sua conta para o ano que vem.

E não é apenas o resultado ou os pontos em si. E sim a atuação do brasileiro que foi magistral em Interlagos, numa condição de pista que traiu muita gente hoje. Além do traçado espetacular, o circuito paulistano ainda oferece essas variações climáticas que, ano sim ano não, transformam a corrida numa imensa loteria.

E abre espaço para gente muito boa brilhar. E Nasr brilhou, o que pode ser um grande peso na sua tentativa de permanecer na Sauber em 2017. Ele não tem a grana de Esteban Gutierrez, mas mostrou que pode garantir dinheiro de outra forma para a equipe: apresentando-se bem quando as condições estiverem a seu favor.

E o que dizer da corrida de Max Verstappen? Minha Nossa Senhora, que piloto é esse? Ultrapassou nada menos do que 11 adversários em 15 voltas, um absurdo. A última manobra, sobre Sérgio Perez, foi um verdadeiro show do piloto, que foi aplaudido de pé pelo público, no circuito.

Falando em público, vale dizer: comportamento exemplar da torcida na homenagem a Felipe Massa. É muito raro ver a exigente torcida brasileira reverenciar um piloto que não foi campeão e ainda que vai mal na sua prova de despedida, diante dos seus torcedores. Mas Felipe talvez tenha sido o último a chamar a atenção do brasileiro para a Fórmula 1, com suas temporadas de 2006 e 2008, quando venceu no Brasil. Na última, inclusive, ficou por 500 metros de ser campeão. Massa foi um piloto menos exuberante do que Rubens Barrichello, mas soube escolher a hora de parar e deu à torcida a chance de homenageá-lo como merece. A imagem dele voltando as boxes com a bandeira brasileira é uma das mais belas da história do autódromo.

Agora a F1 terá sua decisão em Abu  Dhabi, com Lewis Hamilton precisando vencer e torcer para que Nico Rosberg chegue na quarta posição. Como já dissemos, o moderníssimo autódromo Yas Marina é extremamente previsível e Nico só precisará se manter na pista. Lewis terá que torcer para que as duas Red Bull aprontem alguma, ou então para que o companheiro enfrente problemas de motor.


Acho que não vai dar. Rosberg fez uma boa temporada e merece ser campeão. Vamos conferir.