quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Chance de novos rumos


Rubens Barrichello não vai mais comentar corridas de Fórmula 1 na Rede Globo. A emissora anunciou ontem, por meio de um comunicado lacônico, no qual dizia que o contrato era para algumas corridas e que se encerrou agora. Às vésperas do GP do Brasil. Sei…

Mas, independente do que tenha ocorrido, acho que quem perde com isso é o telespectador. Sou jornalista, mas não tenho nada contra ex-atletas que passam a exercer a função de comentarista. Acho uma bobagem esse papo de que tira espaço de profissionais. Bons profissionais têm espaço, e esses que estão aí na TV, principalmente no futebol, não são bons jornalistas, na sua maioria.

É claro que é preciso um pouco de preparo e talvez isso tenha faltado a Barrichello. Mas, tirando suas fracas entrevistas no grid e algumas piadinhas sem graça, suas participações sempre me pareceram esclarecedoras. Rubens deixou a F1 em 2011, conhece muito bem o comportamento destes carros e, numa categoria com tanta tecnologia, é bom ter alguém que entenda dela para ajudar na transmissão. E não é Luciano Burti, que não corre de Fórmula 1 regularmente há mais de dez anos, que vai resolver.

Com a chegada de Barrichello, em 2013, a Globo parece ter tentado trazer para o Brasil o modelo de transmissão que a Sky Sports faz na Europa. Não deu certo, principalmente porque, ao contrário da Globo, a Sky é uma emissora fechada e tem muito tempo disponível para realizar a transmissão. É o velho problema da F1 no Brasil, transmitida por uma emissora aberta com enormes interesses comerciais e uma linha editorial questionável, que insiste em enganar o espectador fazendo parecer que ele não está vendo o que está na tela. Não tem ex-piloto que salve um negócio desses.

De qualquer maneira, a participação de Barrichello na transmissão parece ter engessado sua carreira na Stock, já que a Globo não admite que contratados seus apareçam em outras emissoras. Quem sabe, livre das amarras da empresa carioca, Rubens não consiga dar um novo rumo a sua carreira? Eu não me incomodaria em vê-lo numa eventual volta à Indy, por exemplo, categoria na qual ele ficou devendo bastante.

domingo, 12 de outubro de 2014

Virou o jogo


Seja lá o que tenha ocorrido após o GP da Bélgica, quando Rosberg e Hamilton atingiram o auge da rivalidade, o fato é que o inglês saiu mais forte do episódio. As conversas devem ter sido duras e, pelo que saiu na imprensa, a Mercedes ficou ao lado dele. E Rosberg, depois daquilo, não conseguiu mais manter o mesmo desempenho. Apenas em Cingapura, teve problemas. Na Itália, no Japão e na Rússia, foi engolido pelo companheiro.

Na chatíssima pista de Sochi, Nico confirmou que a pressão pesou nos seus ombros. Tentou ultrapassar Lewis de forma suicida na primeira curva, arrebentou com seus pneus, precisou trocá-los ainda na primeira volta e só conseguiu o segundo lugar porque a Mercedes tem um carro que é de outra categoria. Mais uma dobradinha da equipe no ano, que confirma o título de construtores, de forma inapelável e merecida.
Quanto ao título de pilotos, Lewis Hamilton caminha forte. A não ser que os azares que o atrapalharam na primeira metade do campeonato voltem a incomodá-lo. Na pista, está difícil bate-lo.

A pista de Sochi apresentou uma nova característica, a qual não estávamos acostumados. Com um asfalto muito gentil, permitiu que os pilotos optassem por apenas um pit stop e Rosberg, que parou na primeira volta, chegou ao fim com a borracha em boas condições. Só Felipe Massa parou duas vezes. O brasileiro adotou uma tática diferente, já que largava em 18°. Colocou pneus macios logo na primeira volta.

Vinha bem, até que empacou atrás de Sérgio Perez. A Williams então decidiu colocar um novo jogo de pneus no carro de Felipe, para que ele pudesse superar os adversários com maior facilidade. Não adiantou. Novamente empacado atrás do mexicano da Force Índia, Massa chegou apenas em 11°, tendo nas mãos o segundo melhor carro do grid, enquanto Valteri Bottas conseguiu mais um pódio. A corrida de hoje explica um pouco a diferença de pontos entre os dois na tabela. Definitivamente, o primeiro ano de Massa na Williams poderia ter sido bem melhor.

No mais, boas corridas da McLaren e de Fernando Alonso, enquanto as Toro Rosso tiveram desempenho discreto, após boa performance nos treinos. Mas foi uma corrida estranha, na Rússia. O acidente de Jules Bianchi e seu gravíssimo estado de saúde deixou a competição em segundo plano. Antes da prova, foi feita uma bela homenagem ao piloto, que segue no hospital, sem progressos. Tenho um amigo que é médico e ele me disse que o tipo de lesão que foi descrito no boletim médico, é irreversível. E os pilotos sabem disso.

A Fórmula 1 terá muito o que discutir sobre segurança e procedimentos extra-pista nos próximos meses.

domingo, 5 de outubro de 2014

Andrea De Cesaris


Para completar o fim de semana triste para os fãs do automobilismo, fomos pegos de surpresa com o falecimento de Andrea De Cesaris, o folclórico ex-piloto da Fórmula 1. Aos 55 anos, De Cesaris sofreu um acidente de moto numa estrada em Roma, e morreu instantaneamente.

Com a carreira fortemente ligada à Alfa Romeo, foi por essa equipe que ele estreou na Fórmula 1. Com algum destaque, chegou à McLaren em 81, mas a equipe passava por um momento difícil e De Cesaris foi dispensado no final do ano. Voltou à Alfa Romeo, onde conseguiu sua primeira e única pole position, em 82.

Depois disso passou por inúmeras equipes, como Ligier, Rial, Dallara, Jordan e Sauber, onde encerrou sua carreira em 94. Mas não foram os resultados que o tornaram conhecidos e sim a capacidade incrível de se envolver em acidentes bizarros.

Uma curiosidade: Andrea De Cesaris foi o primeiro companheiro de equipe de Michael Schumacher, na Jordan, em 1991. Schumacher estreou no GP da Bélgica daquele ano, substituindo Bertrand Gachot, o outro piloto do time. Na corrida, enquanto o alemão abandonou na primeira volta, De Cesaris andou como nunca e, faltando 2 voltas para o fim, foi traído pelo motor da Jordan, quando estava em segundo. Um pecado.

Um piloto que marcou uma geração de fãs de automobilismo e que se vai muito cedo. Uma perda muito triste.

Torcida por Bianchi

Em 2003 eu fazia um programa de automobilismo na Rádio Fumec (uma rádio universitária aqui de Belo Horizonte), juntamente com Fábio Campos e Luis Fernando Ramos. E, neste ano, fizemos a transmissão do GP do Brasil de Fórmula 1, com Luis narrando e eu e Fábio in loco no autódromo. Tudo improvisado, mas com muito profissionalismo.

Foi nessa corrida que houve um dilúvio de proporções bíblicas e que transformou a curva do Sol, do circuito paulista, num rio. Vários pilotos saíram ali. Numa dessas escapadas, entrou um trator para retirar o carro (acho que era a Jaguar, de Mark Webber) e, neste momento, Michael Schumacher escapou e por muito pouco não acertou o trator. O pentacampeão saiu do carro muito bravo e soltou os cachorros em cima da FIA. Com toda a razão.

E 11 anos depois disso, o que poderia ter ocorrido com Schumacher, ocorre com Jules Bianchi, 25 anos, piloto da Marússia. No GP do Japão deste fim de semana, um trator entrou na pista para retirar a Sauber de Adrian Sutil. Novamente, como há 11 anos, a corrida não foi colocada sob Safety Car e Bianchi acabou escapando, acertando em cheio o trator. A FIA não liberou imagens, mas pelas fotos, a Marússia passou por baixo do equipamento. Toda a parte de cima do carro foi arrancada. Jules Bianchi teve uma lesão cerebral, foi operado e segue em estado grave, porém respirando sem a ajuda de aparelhos. É uma ótima notícia, já que ele poderia ter sido decapitado.

Aparentemente a FIA não acredita muito em recados. É preciso que haja uma tragédia efetiva para que ela tome providências. É interessante que a FIA tenha passado anos transformando as areas de escape dos circuitos em espaços enormes, mas não tenha se atentado para o fato de que qualquer elemento estranho presente nelas, deveria ser motive para que o Safety Car entrasse na pista. Ainda mais numa curva veloz, e numa corrida sob chuva intensa.

Foi um fim de semana tenso, este do Japão. Mas diante de um acidente como este, tudo fica para trás. Agora, o melhor a fazer é torcer pela recuperação de Jules Bianchi.

sábado, 4 de outubro de 2014

Adeus asas

Vettel celebra seu quarto título mundial: parceria vencedora
com a Red Bull chega ao fim
Todo mundo esperava um anúncio da Honda sobre a contratação de Alonso, mas o que veio foi outro: Sebastian Vettel não corre pela Red Bull em 2015. O comunicado foi feito pela própria equipe, que disse ter sido avisada ontem. Christian Horner confirmou que Daniil Kvyat será o substituto do tetracampeão. E mais: disse que Vettel será piloto da Ferrari.

É a primeira peça a se mover, num quebra cabeça interessatíssimo. Fernando Alonso deixa a Ferrari e vai correr na McLaren. Vettel vai para o lugar do espanhol. De tudo isso, a única confirmação que temos até agora é a saída do alemão da Red Bull. Por isso, vamos comentar o restante somente quando saírem os anúncios oficiais.

Sebastian Vettel estreou na Fórmula 1 pela BMW, substituindo Robert Kubica no GP de Indianápolis de 2007. O polonês havia se acidentado no GP anterior, em Montreal, e a equipe chamou Vettel, que atuava como piloto de testes. Logo de cara, marcou pontos. Sua carreira era ligada à Red Bull desde o kart e a equipe tratou de levá-lo para a Toro Rosso na corrida seguinte, colocando-o no lugar de Scott Speed (que nome!).

O alemão permaneceu lá em 2008 e venceu de forma assombrosa o GP da Itália. Em 2009 foi para a equipe principal e o resto é história. Aos 27 anos Vettel já é tetracampeão e tem tempo de sobra para reconduzir a Ferrari ao caminho das vitórias.

A Red Bull vem tendo um ano difícil em 2014, talvez o mais conturbado de sua história na Fórmula 1. Primeiro foi o desempenho pífio do carro nos testes iniciais da temporada, o que atrasou seu desenvolvimento. Depois veio o anúncio da saída de Adrian Newey, que cansou desse regulamento cheio de travas, que a cada ano limita mais o trabalho dos projetistas. E agora perde o piloto que levou a equipe a ser uma das mais respeitadas da história da F1. De boa notícia mesmo, só o desempenho de Daniel Riccardo, este ano.

Não me lembro da equipe passar por um turbilhão tão intenso em sua breve história. Será um dos capítulos interessantes da F1 no ano que vem: como a Red Bull vai superar tantas perdas para voltar ao topo.