segunda-feira, 30 de junho de 2014

Mais uma que vai

A Caterham e seu narizinho miserável

Ao que parece, a aventura da Caterham parece estar chegando ao fim na Fórmula 1. Tony Fernandes, o dono da equipe, tuitou um lacônico "A F1 não deu certo" e fechou a conta no microblog.

Das três estreantes que chegaram à F1 em 2010, apenas a Marússia dá mostras de que pretende continuar em 2015. Também foi a única que mostrou alguma evolução, inclusive marcou seus primeiros pontos na categoria no GP de Mônaco, este ano. A Hispania virou HRT e saiu logo depois e agora a Caterham vai embora, depois de estrear como Lotus.

Confesso que das três, a Caterham me parecia a "melhorzinha". Quando começou a contar com o motor Renault, em 2012, pensei que eles começariam a se aproximar do pelotão mais à frente, mas isso nunca aconteceu. Ao contrário, a equipe vem andando para trás. Este ano, com Kobayashi como piloto, chegou a ter um brilhareco na Malásia, quando andou na zona de pontos, mas foi só.

Um time pouco carismático que sai sem deixar saudades. Provavelmente deve ter sua estrutura vendida para alguém que queira se aventurar a fazer um time de Fórmula 1.

É estranho o que vem acontecendo com a F1 este ano. Adrian Newey também já disse que não vai mais se dedicar à categoria, embora tenha renovado contrato com a Red Bull. Vai trabalhar em outro setor da empresa. Ross Brawn saiu da Mercedes e teve seu nome ligado à Ferrari e à Williams, mas não quis nem saber.

Tenho achado o pessoal meio de saco cheio, principalmente com essas regras novas. Está difícil ter liberdade para criar, com tanta imposição e limitação. É um problema que Bernie Ecclestone vai ter que contornar. Ou talvez ele prefira continuar contando dinheiro, sei lá...

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Com o regulamento debaixo do braço

Felipe Massa: pole no sábado e quarto lugar no domingo. Ainda assim, um resultado importante.

Está bem difícil falar de Fórmula 1 durante essa Copa do Mundo espetacular que estamos vendo aqui no Brasil, mas vamos lá. Tivemos o GP da Áustria neste fim de semana.

Tem muita gente criticando a Williams pela tática conservadora adotada na corrida. De fato, a equipe correu para minimizar riscos após a brilhante classificação de sábado, quando Felipe Massa fez a pole e Valteri Bottas completou a primeira fila.

Como já dissemos aqui, a Williams é a equipe que mais evoluiu de 2013 para 2014, saindo das últimas posições do grid para ter, hoje, o segundo melhor carro da Fórmula 1 em algumas corridas. É um crescimento exponencial que, certamente, custou muito caro. E, até aqui, embora tenha mostrado potencial, bom resultado mesmo foi só o quinto lugar de Bottas, na Espanha. A pressão devia estar violenta para os lados de Frank Williams e, qualquer coisa a menos do que um pódio na Áustria, seria um fracasso terrível.

A equipe sabia que não seria páreo para Nico Rosberg, que largava em terceiro, mas não contava com o início de prova arrasador de Lewis Hamilton que largou em nono e pulou para a quarta posição já na primeira volta. Com isso, os dois Mercedes conseguiram superar os Williams e a equipe, que pretendia por seus dois pilotos no pódio, conseguiu o terceiro lugar, com Bottas, e o quarto, com Felipe. De qualquer maneira, somaram muitos pontos pela primeira vez no ano, o que acabou sendo importante.

Massa perdeu a oportunidade de conseguir o pódio ao imprimir um ritmo lento de corrida após o primeiro pit-stop, no qual perdeu tempo em relação aos adversários. Em nenhum momento esboçou qualquer tipo de reação. Fiquei com a sensação de que a orientação para os pilotos da Williams nessa corrida era “cheguem ao final, por favor!”. Dada a situação em que a equipe estava na tabela, acho que isso foi compreensível. Mas espero que, agora, com os pontos marcado, a Williams possa começar a ousar mais nas estratégias, buscando até mesmo vitórias. Como vimos na Áustria, elas são possíveis.

Por outro lado, temos a Mercedes que permanece muito à frente de todos os rivais. E, apesar de ser um piloto menos exuberante, Nico Rosberg começa a arrancar para o seu primeiro título mundial. Ao contrário do companheiro Lewis Hamilton, mais rápido e mais gabaritado, Rosberg raramente comete erros e se mantém o tempo todo em posição privilegiada nas corridas e treinos. Hamilton, por exemplo, jogou fora a corrida ao errar sozinho na classificação.

Lewis pode até conseguir virar o jogo mas, para isso, precisa vencer a si mesmo. Caso contrário, jogará no lixo uma boa oportunidade de se tornar bi-campeão.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Coitado do Rubinho



Rubens Barrichello disputou 326 corridas em quase vinte anos de carreira, na Fórmula 1. Venceu 11 provas, largou na pole 14 vezes, fez 658 pontos no total. Por duas vezes, foi vice campeão do mundo. Não é uma carreira ruim, longe disso. Tem muito piloto que passa pela F1 e nem nos lembramos da existência do dito cujo. Ainda assim, no Brasil, Rubens Barrichello é sinônimo de lentidão, de derrota, de segundo lugar.
Basta vir um grande evento e as redes sociais ficam infestadas de fotos-montagem como esta que está ilustrando o post, com Rubinho chegando atrasado ao evento em questão. Mas, por que isso acontece?

Primeiro porque Rubens não teve uma carreira linear. Com a morte de Senna, foi alçado à condição de protagonist repentinamente, quando ainda era uma promessa. Em se tratando de Brasil, a expectativa era justificável, mas Barrichello cometeu o erro de embarcar no oba oba. Me lembro muito bem da pré-temporada de 95, quando a Jordan começou a fazer tempos razoáveis com o motor Peugeot e Rubinho assumiu uma aura de favoritismo para o primeiro GP da temporada, em Interlagos, absolutamente incompatível com a condição da equipe. E essa foi só a primeira de muitas decepções.

Mas não acho que esse tenha sido o principal problema, apesar de ter ajudado bastante na construção de sua imagem. O problema maior é que Rubinho é o representante maior do “Coitadismo”, um perfil que o brasileiro adora assumir para si, mas detesta ver como característica alheia.

As empresas brasileiras estão cheias de “coitadinhos”, esse pessoal estranho que não assume responsabilidade por nada, se faz de sofrido para poder jogar a culpa de seus erros nas costas dos outros. Sei muito bem como é isso, trabalhei 12 anos em empresa privada.

É de Barrichello a infame frase “sou só um brasileirinho, contra todo este mundão”, dita no momento em que sua ficha começou a cair sobre ser o segundo piloto da Ferrari. Uma das minhas preferidas (ironic mode on) foi a campanha “um pontinho pro Rubinho”, lançada pelo próprio em 2007, quando a Honda fez um lixo de carro e Rubens fechou o ano sem marcar um ponto sequer, naquela que foi a pior temporada da sua carreira. Isso sem contar as inúmeras desculpas das mais criativas arranjadas por ele, para justificar desempenhos ruins em corridas. Uma vez, não me lembro em qual pista, chuviscou antes da largada e Rubinho disse que as gotas de chuva molharam seus discos de freio e atrapalharam seu desempenho na prova. Putz.

Ou seja, a má fama de Rubens Barrichello é bastante explicável, o que é uma pena já que trata-se de um piloto de muita qualidade (Barrichello foi, na minha opinião, muito mais piloto do que Felipe Massa é. Mas Massa goza de muito mais credibilidade, justamente pela maneira profissional com a qual encara seus resultados, sejam eles bons ou ruins).

De qualquer maneira, pouco adiantaria tentar reverter essa imagem por meio de números que comprovem a qualidade de Rubinho como piloto. A julgar pela propaganda da Renault, estrelada por ele no início do ano, o próprio parece não ligar muito para a má fama, e ainda utiliza a mesma para ganhar um dinheiro extra. Então, não sou eu que devo me preocupar.



domingo, 8 de junho de 2014

Melhor assim



Vamos começar do final: Felipe Massa fez, no Canadá, sua melhor corrida do ano. Foi rápido, consistente, conseguiu manter um ritmo forte com seu segundo jogo de pneus, o que foi fundamental para que pudesse compensar o lamentável primeiro pit-stop realizado pela Williams. Eu até acho que a equipe poderia ter adotado uma tática diferente, mantendo o brasileiro na pista por mais tempo quando ele estava na liderança, para que ele pudesse calçar pneus supermacios no final. Mas é uma análise de quem está de fora, não sei se isso seria possível.

Mas aí houve a batida no final e um possível quarto lugar jogado no lixo. Não foi culpa do brasileiro, embora na hora tenha parecido que sim. Sérgio Perez defendeu a posição de forma imprudente, mudando a trajetória no momento da freada e Massa acabou passando por cima dele. Pérez vai perder cinco posições no grid do GP da Áustria, a próxima corrida.

Mas, mesmo que Felipe tivesse sido culpado, eu prefiro ver o brasileiro com a faca nos dentes, tentando conseguir mais pontos, do que burocrático como vinha sendo nas outras provas. Esse é o Felipe Massa que a Williams contratou e, se a equipe for inteligente, é a hora certa de conversar com ele no sentido de incentivá-lo. Se seguir assim, aposto num pódio do brasileiro ainda este ano, o que será espetacular.

Mas a corrida do Canadá foi espetacular por outros motivos também. A começar pela briga de Hamilton e Rosberg que estão tentando enganar a todos dizendo que voltaram a ser amigos, mas pelo menos na pista continuam mostrando o contrário. Hoje Rosberg jogo duro contra o companheiro na largada, embora tenha sido leal na defesa da posição.

E, pela primeira vez no ano, os carros prateados apresentaram problemas que levaram Hamilton a abandonar. Talvez por estar atrás de Nico ele não tenha conseguido poupar o equipamento para tentar chegar ao final, como fez o alemão, que assegurou pontos fundamentais para o campeonato. Lewis vai ter que remar tudo de novo para tirar a diferença.

E tivemos a primeira vitória de Daniel Ricciardo, que vem fazendo uma temporada espetacular. Bom ver a Red Bull de volta ao alto do pódio, depois dos problemas enfrentados no início do ano. Uma prova de competência da equipe austríaca, que segue sofrendo com a falta de potência do motor (ou unidade de força) Renault.

E para a Mercedes fica o recado: é bom não bobear, porque tem gente boa no seu encalço.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Sobre a Stock Car e seus carros de brinquedo

Cacá Bueno chega ao final da prova neste estado: é possível levar a sério? 

Tinha algum tempo que eu não me sentava à frente da TV para assistir a uma corrida completa da Stock Car. Fiz isso ontem, para ver a rodada dupla disputada em Goiânia, com vitórias de Felipe Fraga, na primeira prova e de Thiago Camilo, na segunda.

Primeiro os elogios. As corridas foram boas, com muitas brigas e ultrapassagens. Há uma qualidade humana inegável na Stock, como foi comentado durante a transmissão. De fato, os pilotos são muito bons, é difícil ver alguém fazendo barbeiragens, com uma ou outra exceção. Mas o grande elogio mesmo fica para a pista, reinaugurada depois de uma enorme reforma. O resultado é excelente: asfalto ótimo, boa estrutura, muita gente assistindo, um oásis no combalido automobilismo brasileiro.

Mas tem uma coisa que me incomoda na Stock e que, pelo jeito, não mudou: o fato dos carros irem se desintegrando ao longo da prova. É um verdadeiro festival de pneus estourando, carenagens se arrebentando, spoilers pendurados, capôs balançando com o vento. Me passa uma incômoda sensação de fragilidade, como se os carros da Stock Car fossem de brinquedo. É preciso dar um jeito nisso.

Na época que fazia o programa Grid GP, na rádio Fumec, ao lado dos companheiros Fábio Campos e Luis Fernando Ramos, comentávamos muito sobre o fato da Stock ter adotado esse chassi tubular carenado que acabou viabilizando a categoria economicamente. De fato foi um movimento positivo que fez com que a categoria crescesse, contasse com mais de 30 carros no grid, a maioria andando no mesmo segundo.

A competitividade da Stock atrai a atenção do público, mas ela logo se dissipa quando o espectador vê que os carros parecem de brinquedo. Não dá pra ver Cacá Bueno chegar ao final da segunda corrida com o carro todo destruído por causa de um pneu furado na primeira prova. Automobilismo, em geral, precisa trazer sensação de robustez e a Stock é um lixo neste ponto. E não é porque é categoria de turismo, que tem muitos toques mesmo, que se pode admitir isso. A Nascar não sofre com este problema, nem o WTCC e nem o DTM. E, no Brasil, isso também não acontece no brasileiro de marcas.

Outra coisa a se considerar: essa regra adotada para a rodada dupla é complicada demais. Rodada dupla é um negócio simples, os dez primeiros da prova 1 invertem o grid para a prova 2 e vamos embora, todos com igualdade de condições de novo. Essa coisa de para no box, troca três pneus, o outro troca dois, o outro nenhum, aí tem um que poe combustível, o outro não. Aí no começo da 2ª prova, logo no início, vai um monte de gente para o box e adeus chance de vitória. Muita complicação, não precisa disso.

A Stock Car tem o ouro na mão: bons pilotos, mídia apoiando e pode correr em autódromos excelentes, como Goiânia ou Interlagos. Mas pode estar se perdendo em coisas que nem imagina.