segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Uma chance aos pequenos

É muito legal quando uma equipe pequena, que só anda lá atrás, de repente “acha” um acerto incrível para uma determinada pista e consegue surpreender todo mundo. Não são muitos casos assim na F1. Me lembro de uma corrida, em 1990, na França, quando as March de Ivan Capelli e Maurício Gugelmin lideraram boa parte da prova, ao optar por não trocar pneus. O brasileiro acabou abandonando, mas Capelli foi chegou em segundo lugar, sendo ultrapassado por Alain Prost quando faltavam três voltas para o fim. Foi um dia de festa de para a Fórmula 1.

Pois 19 anos depois a Force India resolveu surpreender também. Sabe-se lá como a equipe, figura fácil no fim do grid, arrumou um acerto ideal para Spa-Francorchamps, possibilitou que Giancarlo Fisichella fizesse uma incrível pole-position no sábado e chegasse ao pódio no domingo. Isso sem contar Adrian Sutil, que mesmo não marcando pontos, fez uma corrida combativa ultrapassando, pressionando e dando trabalho aos outros pilotos. Fosse um pouquinho mais constante teria chegado entre os oito primeiros.

A Force India só não ganhou a corrida porque, como é de praxe em Spa, Kimi Raikkonen esteve perfeito. Venceu com autoridade, fazendo uma largada ousada e ultrapassando Fisichella quando o Safety Car deixou a pista no começo da prova, controlando a corrida com tranqüilidade.

Quem deve estar bastante preocupado é Jenson Button. Mal na classificação, o inglês se envolveu no acidente que também tirou da prova Lewis Hamilton, Jaime Alguesuari e Romain Grosjean de uma só vez. Para sorte do inglês, só Sebastian Vettel conseguiu um bom resultado entre aqueles que o ameaçam. Mark Webber esteve muito mal durante todo o fim de semana e Rubens Barrichello, mais uma vez, teve problemas na largada e só conseguiu dois pontinhos.

É bom o inglês da Brawn começar a se preocupar. Se não melhorar o desempenho, pode ver sua vantagem se acabar rapidamente.

Classificação Final (8 primeiros):

1º) Kimi Raikkonen – Ferrari
Quando está acordado, é um grande piloto. Pena que esteja acontecendo tão pouco.
2º) Giancarlo Fisichella – Force India Mercedes Benz
Fantástico. Mais uma vez Fisichella prova que só vai bem em times pequenos. Um resultado histórico para sua equipe.
3º) Sebastian Vettel – Red Bull Renault
Não tinha chances, perante o bom desempenho de Ferrari e Force India. Mas conseguiu um bom resultado na luta pelo título.
4º) Robert Kubica – BMW
A performance de Kubica (e também de Heidfeld) deve deixar a covarde BMW com vergonha de ter anunciado sua saída.
5º) Nick Heidfeld – BMW
Idem a Kubica. É uma pena que talvez não consiga um lugar para correr em 2010.
6º) Heikki Kovalainen – McLaren Mercedes Benz
Poderia ter lutado mais à frente, mas não vem bem o ano todo. Marcou pontos, mas foi pouco. 7º) Rubens Barrichello – Brawn GP Mercedes Benz
Pela terceira vez no ano, teve problemas com a embreagem. Não venceria a prova, mas poderia ter ficado em quarto lugar, ou até chegado ao pódio. Precisa discutir isso com a equipe (internamente, por favor).
8º) Nico Rosberg – Williams Toyota
Mantendo sua regularidade no ano. Desta vez, sem brilhar, mas marcando seus pontinhos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Atividade: o x da questão



A performance de Luca Badoer, ao volante da Ferrari, em Valência, apenas prova por A+B que a tecnologia da Fórmula 1, aliada à performance dos carros, não permitem mais que um piloto, por melhor que seja, consiga sentar num carro depois de anos, e fazer tempos competitivos. Não que Badoer seja um assombro como piloto mas, quando correu na categoria há dez anos, certamente era bem mais competitivo do que foi.

O que quero dizer é que já não basta mais saber dirigir. É preciso ter ritmo de prova, condicionamento físico e familiaridade com o comportamento do carro. E dificilmente um piloto que não andava num F1 há 8 meses, e mesmo assim, quando andou, fez apenas testes, conseguirá andar rápido. Me lembro de uma frase de Antônio Pizzonia, após fazer o seu primeiro teste num Fórmula 1. Perguntado se era fácil pilotar o carro, o amazonense respondeu: “É fácil movimentá-lo, fazê-lo sair do lugar. Difícil é andar rápido”.

O que nos leva a concluir que a Ferrari cometeu um erro grotesco, expondo Badoer e todos os outros pilotos há um risco iminente. Por que Luca conseguiu movimentar o carro, é verdade, mas não conseguiu fazê-lo de um modo competitivo. Foi lento ao extremo, rodou, saiu da pista, foi punido por passar dos limites nos boxes tanto nos treinos quanto nas corridas. É a pior performance da história da categoria. Nunca se viu algo parecido.

Badoer não precisava passar por isso. E nem a Ferrari. Os italianos deram mais uma mostra de sua desorganização atual, conseqüência direta da saída do trio Ross Brawn, Jean Todt e Michael Schumacher. A Ferrari se precipitou em anunciar a volta do heptacampeão, demorou a perceber que ele não teria condições de pilotar e, ao invés de buscar alguém com mais ritmo de prova, resolveu “premiar” Luca Badoer. Poderiam ter chamado Marc Gene, que tem competido em outras categorias de turismo, ou mesmo um dos desempregados Sebastien Bourdais ou Nelsinho Piquet. Não seria necessário muito dinheiro ou esforço para contar com um dos três. E, certamente, ofereceriam um desempenho melhor do que o que vimos do “premiado” Badoer.

É mais um erro para a coleção da Ferrari. Que deverá ser repetido, pois não haverá tempo para trazer outro piloto em Spa. Boa sorte a Badoer e aos outros pilotos que estiverem na pista.

domingo, 23 de agosto de 2009

GP de Valência: show de Rubens, numa prova chata

Bela vitória de Rubens Barrichello, agora há pouco em Valência, uma corrida chata, como têm sido chatas a maioria das provas este ano. Tirando aquelas nas quais vemos muita chuva, o resto temos que ficar mesmo é com as ultrapassagens nos boxes. Ainda bem que isso vai terminar no ano que vem, mas isso é assunto para outro dia.

Dizia que Rubinho ganhou a corrida de forma brilhante. E foi mesmo. Obviamente contou com o erro da McLaren que jogou a corrida de Lewis Hamilton na lata do lixo, ao se embananar no pit-stop do inglês. Mas, como já disse antes, corridas são assim mesmo. Rubens tem seus azares e não pode reclamar. Hoje foi seu dia, estava no lugar certo e na hora certa, como Button esteve no início do ano e aproveitou.

É cedo para dizer que o brasileiro tem chances de título, pois a diferença dele para Jenson Button é de 18 pontos, o que é muita coisa. Mas matematicamente é possível e Rubens pode se aproveitar do momento pouco favorável pelo qual passa o colega inglês. Vamos acompanhar.

Aos pitacos:

_ Essa pista de Valência pode até ser bonita, mas o traçado é de doer. Difícil de ultrapassar. Porque torrar esta grana, construindo uma pista destas, se a cidade tem um belo autódromo para sediar corridas? Coisas da F1...

_ Romain Grosjean estreou pela Renault e não fez nem mais nem menos do que Nelsinho Piquet, ao contrário do que Galvão Bueno tentou fazer parecer. A vantagem do francês é que esta era sua primeira prova e ele ainda tem o que evoluir.

_ Vou escrever mais detalhadamente sobre Luca Badoer, mas adianto que acho o italiano o menos culpado do que aconteceu neste fim de semana. Um vexame que ele não precisava passar.
_ Irreconhecível a Red Bull neste final de semana. Bom para a Brawn que vai conseguindo administrar a vantagem que Jenson Button abriu no início da temporada.

Classificação Final (8 primeiros):

1º) Rubens Barrichello – Brawn Mercedes Benz
Impecável, desde o início do fim de semana. Sua melhor corrida no ano. Se mantiver o desempenho, pode entrar na briga.
2º) Lewis Hamilton – McLaren Mercedes Benz
Fez uma bela prova, mas foi prejudicado pela equipe. A McLaren renasceu em 2009.
3º) Kimi Raikkonen – Ferrari
Vai beliscando pódios e pontos importantes para a equipe.
4º) Heikki Kovalainen – McLaren Mercedes Benz
Bem nos treinos e discreto na corrida. Continuo achando que é muito carro para pouco braço.
5º) Nico Rosberg – Williams Toyota
O contrário de Kovalainen. Com eficiência e velocidade, vai conseguindo pontos importantes, com um carro ruim.
6º) Fernando Alonso – Renault
Continua salvando o ano da Renault, com seus pontos. Leva o carro nas costas.
7º) Jenson Button - Brawn Mercedes Benz
Caiu muito nas últimas corridas, mas ainda tem uma enorme vantagem no campeonato. É só saber administrar.
8º) Robert Kubica – BMW
Há quanto tempo não víamos o polonês nos pontos! Um desperdício de talento, com um carro abaixo da crítica.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A desistência do campeão

* Texto escrito há mais de uma semana. Postado só agora por pura falta de tempo deste blogueiro

Relutei bastante antes de escrever sobre a alardeada volta de Michael Schumacher à Fórmula 1, justamente por sentir que o próprio alemão se mostrou bastante reservado e pouco empolgado com a notícia, frente ao oba oba feito pela imprensa esportiva. Schumacher se limitou a divulgar um comunicado seco, reafirmando sua lealdade à Ferrari e sua amizade com Felipe Massa.
Mas foi só entrar no cockpit da Ferrari de 2007, emprestada por um milionário que adquiriu o carro que fez de Kimi Raikkonen campeão, para que Michael acusasse dores do pescoço. Um esporte que maltrata tanto esta parte do corpo do atleta, não perdoaria alguém que não sentava num carro há quase dois anos (ele chegou a participar dos testes para a temporada de 2008). Schumacher percebeu que não seria fácil, tentou fazer alguns treinos de kart, mas viu que não daria mesmo. E hoje anunciou que está fora da prova de Valência. O substituto de Massa será Luca Badoer, italiano com uma extensa folha de serviços prestados à Ferrari.

Obviamente que muitos dirão que Schumacher foi covarde, que não respeitou os torcedores que compraram ingresso para vê-lo e etc. Bom, em primeiro lugar, irresponsável foi a Ferrari, que o anunciou antes de saber se ele estava ou não em condições. E, para mim, Michael Schumacher deu foi uma demonstração de profissionalismo sem igual ao desistir de participar de uma prova, na qual ele não teria mesmo condições de correr, colocando em risco não só a sua, como a integridade de outros pilotos.

Isso sem contar que estamos falando da imagem de um heptacampeão do mundo, o maior de todos os tempos. Não pegaria bem para ele voltar andando no meio do pelotão, sem os reflexos em dia. Em 1995 Nigel Mansell voltou à Fórmula 1 com 40 anos nas costas e, em duas corridas, conseguiu resultados e tempos tão medíocres, que foi despedido. Saber a hora de parar é um dom que poucos atletas têm.

Confesso que sim, fiquei bastante animado por poder ver de volta aquele que escreveu seu nome na história da categoria. Mas sua desistência, depois de tentar e perceber que não dava mesmo, me fazem admirá-lo ainda mais.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Renault demite Nelsinho Piquet

Nelsinho Piquet está demitido da Renault. Não é uma novidade, todos já esperávamos por isso. A questão era saber quando a confirmação viria. Veio agora, por meio de uma nota divulgada pelo próprio piloto. O brasileiro está fora, seu substituto ainda não foi informado, mas é possível que seja Lucas di Grassi, outro brasileiro.

É preciso ver a demissão de Nelsinho sob dois ângulos diferentes: o do próprio brasileiro e o do seu chefe, Flávio Briatore. O mandatário da Renault não é exatamente um líder nato, no sentido de lidar com novatos. Suas críticas abertas a Nelsinho Piquet sempre soaram um tanto deselegantes e cruéis e, certamente, contribuíram para que o clima não fosse dos melhores para o brasileiro. Quando chegou em segundo lugar na Alemanha, no ano passado, até mesmo Fernando Alonso chegou a fazer comentários irônicos sobre o resultado. Ninguém nunca tentou esconder a má vontade com o filho do tricampeão Nelson Piquet e, para qualquer pessoa, é praticamente impossível trabalhar sob um clima tão ruim quanto este.

Mas se é verdade que Nelsinho foi prejudicado por um ambiente ruim, também é preciso dizer que, em nenhum momento, o brasileiro apresentou um desempenho sequer regular, que pudesse justificar sua permanência na equipe. Isso porque se o ambiente é hostil (é hostil para muitos pilotos, em muitas equipes, essa é a verdade) não há registros de uma equipe que prejudique um piloto abertamente. Ninguém está na Fórmula 1 brincando, é um negócio muito caro para se desperdiçar tempo e dinheiro com um piloto prejudicando-o.

Em seu 1 ano e meio de F1, Nelsinho Piquet marcou 19 pontos no ano de estréia. Fez uma ou outra corrida razoável, e nada mais. De resto cometeu uma série infindável de erros, rodadas, batidas grotescas e foi muito, muito mais lento do que seu companheiro Fernando Alonso. Classificou-se à frente do espanhol apenas uma vez, por obra do acaso. Assim como foi obra do acaso seu melhor resultado, o já citado pódio pelo segundo lugar no GP da Alemanha de 2008. Neste ano, enquanto Alonso se esfola para conseguir alguns pontos para a equipe, Nelsinho permanece zerado, sem conseguir chegar sequer perto dos pontos. Não adianta tentarmos defender, é muito pouco para um piloto de Fórmula 1.

E ainda tem o próprio desempenho do brasileiro em corrida. Sempre discreto, do meio do pelotão para trás, adotando a conservadora tática de encher o tanque e fazer menos paradas. Coisa que nunca deu certo. Faltou para ele, um corridão. Daqueles inesquecíveis, que o cara põe um sopro de combustível, sai passando todo mundo, barbariza e, independente do resultado final, chama a atenção para si.

Sobre o futuro resta esperar. Esperar, inclusive, pelo desempenho do substituto do brasileiro. Se o tal piloto andar lá na frente, marcar pontos e se aproximar de Alonso, acho que a carreira de Nelsinho estará sepultada. Caso contrário, pode argumentar, junto à essas novas equipes, que possui alguma experiência na categoria. E tem ainda a chance de seu pai montar uma equipe, o que ainda parece improvável.

O fato é que o brasileiro está a pé. Um final triste, para uma história que prometia ser bem mais vitoriosa.