domingo, 30 de março de 2014

Quem eles pensam que são?

Massa e Bottas, da Williams: tá mais rápido? Então passa, uai!

A Williams não frequenta o grupo das grandes equipes há pelo menos 10 anos. A última vez foi em 2004, quando era empurrada pelo motor BMW e tinha Montoya e Schumacher, o Ralf. Depois disso, fez um carro razoável em 2007 ou 2008, não me lembro, teve um brilhareco com a pole de Hulkenberg em Interlagos/10 e outro com a vitória de Maldonado em Barcelona/12.

Este ano resolveu sacudir a poeira. Contratou diversos profissionais muito capacitados, arrumou um grande patrocinador, trouxe um piloto que passou 8 anos correndo na Ferrari. Em 2013, mal conseguia passar do Q3 nos treinos e agora tem um carro reconhecidamente rápido, marcou pontos nas duas primeiras corridas do ano, fruto do trabalho duro dessa turma que contratou.

Aí, no final da segunda etapa do campeonato, quando Felipe Massa disputava o sexto lugar na corrida, Valteri Bottas se aproxima e, no rádio do brasileiro vem o recado: ”Valteri is fasther than you”. Sinceramente, na hora até pensei que fosse piada. Mas não era. Tanto que, quando Felipe compreensivelmente ignorou a ordem exdrúxula e desrespeitosa, o mesmo engenheiro voltou ao rádio pedindo para que ele conservasse o carro até o final, que não seria atacado pelo companheiro.

É muita palhaçada junta. Ora, se Bottas tinha mais velocidade, que tentasse então a ultrapassagem. Felipe é macaco velho, é óbvio que não colocaria o excelente resultado de sua equipe em risco, brigaria pela posição de forma leal. Mas deixar passar? Gente, isso é uma competição!

Há um excesso de interferência dos engenheiros na corrida, pelo rádio e começo a achar que a FIA, ao invés de ficar inventando regulamentos mirabolantes deveria, simplesmente, proibir o uso de tal comunicação. Falar com o piloto agora, só com plaquinha.

O raciocínio é simples: enquanto o piloto vê a corrida pelo prisma do esporte, querendo ultrapassar, ganhar posições, brigar com os adversários, aqueles que estão fora da pistam só enxergam $$$$$ na frente. Aí temos um festival de “Economize gasolina”, “Poupe pneus”, “Mantenha posição”, “Diminua o ritmo”, “Desligue o ar-condicionado”, “Ligue o limpador de para brisas”, etc. E o coitado lá dentro, se esfola todo para tirar 5 ou 6 segundos de diferença, encosta no adversário e quando está pronto para botar pra quebrar houve, com aquela fleuma toda, “Fulano, não arrisque a posição, esses pontos são importantes”.

É muita frescura junta. Bernie Ecclestone e as equipes precisam entender que as pessoas pagam para ver aquilo no autódromo. Acordam de madrugada para assistir na televisão. E fazem isso porque querem ver esporte. Desfile de carrinhos coloridos não tem graça nenhuma. Isso que fazem o tempo todo, no rádio, é desrespeitoso com pilotos e com público.

Existe jogo de equipe e trabalho em equipe, o que é diferente. Um piloto ajudar o outro a ganhar um campeonato, quando não tem mais chances, é uma coisa (como fez Schumacher com Irvine, na corrida que relembramos essa semana). Mas ceder posição na segunda etapa do campeonato, sem motivo aparentente? Uma piada de mal gosto, de uma equipe que até ontem mal conseguia andar na pista.


Felipe Massa pode não ser um gênio, mas ontem ganhou pontos importantes. Mostrou que tem brio de esportista, um brio que ele havia perdido em outra ocasião, com o mesmo “Is fasther than you”que enterrou sua carreira na Ferrari. Às vezes a vida dá voltas que nos levam a viradas curiosas. Que essa tenha sido a virada que Felipe precisava para recuperar o prazer em correr, na Fórmula 1 ou em outra categoria que tenha um pouco mais de respeito pelos pilotos e pelo público. 

É bom aproveitar

Hamilton lidera sozinho na Malásia: essa vida boa vai acabar

Vamos começar do começo: sim, a Mercedes é a equipe a ser batida este ano. Mas quem vai bater os prateados não é a Ferrari, nem a Williams ou mesmo a McLaren. É a RedBull, subestimada por todos nós quem vai estar nos calcanhares de Hamilton e Rosberg em 2014. E é bom que os dois tratem de aproveitar essa vantagem inicial, porque com o poder de recuperação que a equipe dos energéticos mostrou até aqui, não duvido que Vettel entre na briga já no GP da Espanha, quando a F1 volta à Europa.

E não é exagero. Estamos falando de uma equipe que, nos testes de pré-temporada, mal conseguia movimentar o carro. Na Malásia, Sebastian Vettel esteve próximo de Nico Rosberg o tempo todo, chegou a ter posição para ultrapassar, o que só não fez porque isso ocorreu num momento de bandeira amarela, o que o impediu de acionar a asa traseira móvel. Com tempos consistentes o fim de semana todo, a RedBull é, para mim, a maior surpresa deste início de campeonato.

O resto não surpreende: a Mercedes é a melhor equipe. Hamilton passeou na Malásia com a mesma facilidade com que Rosberg havia feito na Austrália. E deve ser assim nas próximas três ou quatro provas, até que a RedBull ache os poucos milésimos que faltam para encostar de vez.

Assim como não surpreende a Ferrari, com seus resultados apenas medianos. Fernando Alonso fez o máximo que podia e, no fim, em bela briga com Hulkenberg, garantiu o quarto lugar que o alemão tentou lhe roubar, paramos uma vez menos nos boxes. Kimi Raikkonen vinha bem no fim de semana, mas levou um toque de Magnussen no começo, furou seu pneu, caiu para ultimo e fez uma corrida de recuperação bem mais ou menos.


E não há mais a falar da prova, que ainda teve uma boa briga entre Massa e Button, e só. Tem alguma coisa muito errada na Fórmula 1, e começo a suspeitar que sei o que é. Tem a ver com uma coisinha que a Williams fez no final da prova e que comentaremos no próximo post…

sexta-feira, 28 de março de 2014

Para relembrar: Malásia

Schumacher segura Hakkinen e Barrichello na Malásia/99: uma aula

Quando me perguntam por que acho que Michael Schumacher é o melhor da história do automobilismo, respondo que uma pessoa que ganha 7 vezes um título e vence 91 corridas não pode ter outra definição. Mas quando sou questionado em relação à frieza dos números, cito três corridas: o GP da Bélgica de 1995 (quando ele largou em 16º e venceu), o GP da China de 2006 (sua última vitória, uma tacada de mestre nas Renault) e este GP da Malásia de 1999, quando ele voltou após a recuperação do acidente em Silverstone para ajudar Irvine e mostrou que estava muito acima de todos os pilotos da época.

Assista ao vídeo, começando pelo link que postei abaixo e veja se não é verdade. O cara fica seis corridas fora e vê seu projeto de levar a Ferrari ao primeiro campeonato mundial de pilotos desde 79 ser encabeçado pelo picareta Eddie Irvine. Aí é convocado por Luca di Montezemolo a correr na Malásia, uma pista estreante, justamente para ajudar Irvine a derrotar as McLaren de Mika Hakkinen e David Coulthard que, àquela altura, estavam à frente na tabela. Tanto que Hakkinen poderia sagrar-se campeão já em Kuala Lumpur.

Poderia, se não fosse a atuação de mestre de Schumacher que correu como quis, mandou na prova e construiu o resultado a seu bel prazer. Repare na forma como ele tirava o pé nas curvas para atrasar Hakkinen, para depois acelerar quando precisava fazer o finlandês forçar o carro, tudo isso enquanto Eddie Irvine brigava com a sua Ferrari lá na frente tentando, em vão, abrir vantagem.

No fim, quando estava claro que o irlandês não teria capacidade de vencer a prova por suas próprias forças, Schumacher lhe entregou a vitória, possibilitando que Eddie chegasse ao Japão, na última etapa, com vantagem na disputa. Mas lá, Hakkinen tratou de virar o jogo e levou o bi-campeonato.

Vale a pena assistir cada segundo da corrida, uma das melhores de Schumacher, o melhor de todos os tempos na Fórmula 1. 


domingo, 23 de março de 2014

Passeando em Paul Ricard e Sonoma

Dois vídeos bem bacanas, feitos com Helmet Cam (aquela que é acoplada ao capacete):

Primeiro, Lucas di Grassi acelerando o Renault de 2010, que a Pirelli usa para testes, em Paul Ricard:


Depois, Simon Pagenaud, da Indy, dando umas bandas com seu carro em Sonoma: 


De arrepiar!

domingo, 16 de março de 2014

Exageros da Fórmula 1

Com uma largada brilhante, Rosberg assumiu a ponta e foi assim até o final
Não sei se foi na quinta ou na sexta, mas li, no blog do Fábio Seixas, uma frase que faz muito sentido apóes a primeira corrida da Austrália: a Fórmula 1 adora um drama. E é verdade mesmo. Após os testes no Barhein e em Jerez de la Frontera foram inúmeros depoimentos de chefes de equipes e de pilotos, dando um tom catastrófico à primeira corrida do ano. Previsões de uma corrida sem bandeirada final, é o que chegaram a dizer.

Foi um exagero. A corrida não foi catastrófica, o número de abandonos foi até normal, para uma primeira prova. O GP de Melbourne confirmou algumas coisas, trouxe surpresas e mostrou, principalmente, a capacidade extraordinária de desenvolvimento da Fórmula 1, uma categoria que reúne algumas das cabeças mais brilhantes do esporte.

Começando pelas confirmações: a Mercedes fez um foguete e tem uma dupla de pilotos das melhores. A pole de Hamilton e a vitória de ponta a ponta de Rosberg confirmam o favoritismo da equipe. Não fosse o problema de Lewis no começo, a equipe poderia ter tido uma dobradinha espetacular.

Aliás, os motores Mercedes confirmaram o seu potencial, andando o forte o tempo todo. Chamaram a atenção a estreia excelente de Kevin Magnussen, na McLaren, e a Williams, que chegaria ao pódio com Bottas não fosse o toque do finlandês no muro, no começo da prova. Boa notícia para Felipe Massa, que teve que adiar sua estréia na equipe para a próxima prova, já que Kobayashi o atropelou logo na largada, deixando o brasileiro enfurecido, com razão.

Agora, as confirmações ruins: a Lotus não só andou para trás, como conseguiu ser uma equipe de rabeira. Impressionante o que aconteceu com essa equipe de 2013 para cá, o que prova que dinheiro fala muito alto neste meio. Romain Grosjean disse, na sexta, que o carro é horrível. De fato, é mesmo.

E a Ferrari que fez um carro mais ou menos. Isso deverá ser parcialmente compensado com Fernando Alonso, que realmente faz milagres. Kimi Raikkonen, como eu já esperava, teve um desempenho discreto. Vamos ver quanto tempo ele vai aguentar o histrionismo e a desorganização italianas.

No campo das surpresas, começamos pela RedBull, principalmente com Daniel Ricciardo. Corrida constante, rápida e sem erros do australiano, que acabou perdendo seu segundo lugar devido a uma desclassificação: foi constatada irregularidade no fluxo de combustível de seu carro. Será interessante ver como Vettel vai reagir tendo um companheiro que seja tão rápido quanto ele. O fim de semana do alemão foi lamentável, cheio de problemas.

E, por ultimo, Nico Hulkenberg, que começou 2014 como terminou 2013: dando trabalho aos ponteiros. Vai dar uma surra em Sergio Perez.

Infelizmente, a corrida não foi boa como esperávamos. Tirando Valteri Bottas, que fez belas ultrapassagens, o restante dos pilotos andou de forma burocrática, realmente querendo apenas chegar ao fim. Vamos esperar que, na Malásia, daqui duas semanas, as equipes possam ter a segurança de arriscar mais, para podermos ver aquilo que o novo regulamento nos prometeu: mais emoção e alternativas.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Para relembrar: Melbourne

Damon Hill vence com a Williams toda imunda com o óleo de Villeneuve: uma F1 diferente

Desde 1996 realizado na pista de Melbourne, o GP da Austrália, por ser o primeiro da temporada, costuma reservar estréias especiais e inesquecíveis. Este ano não será diferente: Kimi Raikkonen na Ferrari, Felipe Massa na Williams, Pastor Maldonado na Lotus, Daniel Ricciardo na Red Bull, Daniil Kvyat na Toro Rosso, são os que me lembro. A principal estréia, claro, o novo regulamento, que parece ter dado uma bagunçada geral na ordem de desempenho das equipes.

O GP de 96 também teve estréias interessantíssimas:
_ O novo sistema de largada, com a sequência de luzes vermelhas, que permanece até hoje.
_ Jacques Villeneuve, que estreava na Fórmula 1 e na Williams com pole position.
_ Schumacher e Irvine na Ferrari.
_David Coulthard na McLaren
_ Alesi e Berger na então campeã Benetton.
_ Um brasileiro, Ricardo Rosset, chegando à F1 pela Arrows.
_ Martin Brundle na Jordan, ao lado de Rubens Barrichello.

A corrida está disponível em partes no Youtube e posto a parte inicial da prova abaixo. Para ver o resto, é só ir clicando nos links ao lado. Muito interessante de assistir e ver como a dinâmica de uma corrida deF1 mudou ao longo dos anos. E para melhor. Com exceção das Williams, que andaram juntas o tempo todo, os outros pilotos chegaram ao fim separados por diferenças enormes, de mais de 20 segundos. Ponto para Bernie Ecclestone que, ao longo dos anos, formatou o regulamento para permitir uma igualdade maior entre os carros.

Chamou a atenção também a fortíssima estréia de Villeneuve, liderando toda a prova à frente de Damon Hill, inclusive ultrapassando o companheiro com uma bela manobra, quando este saiu dos boxes à sua frente. Só perdeu a corrida porque seu motor falhou a cinco voltas do fim, dando chance a Hill de recuperar a posição, vencer, e arrancar para o seu primeiro e único título.

Muito legal ver também o upgrade imediato que Schumacher proporcionou à Ferrari,levando a equipe que até 95 era a quarta força do campeonato à incomodar os líderes pelo menos no início da prova. Por outro lado, o erro da Benetton em apostar em uma dupla desgastada como Berger e Alesi, com pilotos jovens e promissores no grid podendo ocupar seus cockpits, como Barrichello, Panis ou Frentzen.

E, por fim, uma palavra sobre a transmissão: narração sóbria e equilibrada de Galvão Bueno, com comentários pertinentes e bem colocados de Reginaldo Leme. Sem ficar o tempo todo tentando defender os pilotos brasileiros os dois chegaram a observar, corretamente, o erro crasso cometido por Rosset no começo da prova, ao tentar fazer uma ultrapassagem. Hoje em dia, é inadimissível falar em erro de piloto brasileiro, que são praticamente infalíveis aos olhos da transmissão, mesmo com as imagens mostrando o contrário.

Bem bacana relembrar uma Fórmula 1 de outros tempos, na semana em que a categoria volta a ser disputada.



quinta-feira, 6 de março de 2014

E agora?

Lewis Hamilton e a Mercedes deverão dar as cartas no começo da temporada

Acabou a pré-temporada da Fórmual 1. A partir da próxima sexta feira, dia 14, quando os boxes de Melbourne se abrirem para os treinos livres o jogo será jogado pra valer. E, pelo que vimos nos testes de Jerez de la Frontera e Barhein, é uma temporada que desperta muita curiosidade desde já.

O novo regulamento deu um nó nas equipes. Ninguém conseguiu se entender bem com os carros ainda, nem mesmo aqueles que andaram na frente com alguma constância. Neste sentido, assusta ver as folhas de tempo e constatar a diferença gritante entre os tempos de volta dos pilotos. 3, 4,5, às vezes até 8 segundo separando carros de uma categoria que briga nos milésimos. Quando as diferenças apertavam um pouco, chegavam à 0,7 segundos.

De cara, parece que teremos uma inversão de forças até então inédita na categoria. Williams, Force India e Mercedes parecem ser as mais fortes e deverão dar as cartas nas primeiras provas. A McLaren vem um pouco depois. Aí teremos um pelotão formado apenas pela Ferrari, que teve um desempenho mediano. E só então viriam a campeã Red Bull, sua co-irmã Toro Rosso e a Lotus. Essas, sempre é bom lembrar, precisam conseguir ligar o carro para competir na Austrália, coisa que deverá ser bem complicada, pelo que vimos nos testes. E, como sempre, o fim do grid estará reservado para Caterham e Marússia.

Acho bobagem alguém acreditar em blefe nessa altura do campeonato. Com um regulamento tão diferente e desafiador, só sendo muito burro para desperdiçar testes com joguinhos de cena. As equipes tentaram de tudo, algumas se deram bem, outras muito mal.

Como eu disse outro dia, pela primeira vez em muitos anos, o feeling do piloto será decisivo. Aquele que souber dosar a velocidade com a capacidade de conservar o carro, vai largar na frente no campeonato. Ponto para os mais experientes, como Jenson Button, Felipe Massa e Fernando Alonso.

Agora é hora de começar a contar as horas para a primeira largada do ano e ver as surpresas que teremos com essa nova Fórmula 1.