segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Cadê a Fórmula 1?

Hamilton virou o jogo na Mercedes. Mas, quem se importa?

É bem difícil entender o que está acontecendo com a Fórmula 1 neste final de 2014. Aquela decisão épica que todos esperávamos, entre dois pilotos da mesma equipe, numa batalha que lembrava a rivalidade entre Senna x Prost, transformou-se numa espécie de fim de feira, um apagar de luzes sem graça. Na referida disputa, a rivalidade explosiva transformou-se num show de um homem só, Hamilton, contra um Rosberg resignado e conformado. E o resto? Grid vazio, poucas disputas, poucas notícias. As pessoas estão perdendo o interesse pela F1.

De que adiantou gastar os tubos nesse novo regulamento? Sim, tivemos algumas corridas boas, mas o resultado mais visível são carros bem mais lentos, silenciosos, e tão tecnologicamente avançados que o piloto se tornou uma peça a mais. Os carros são pilotados por engenheiros, que ditam o tempo todo o que fazer, como fazer, quando fazer. Tudo o que o fã de automobilismo odeia.

Há anos eu vinha falando sobre a forma como o dinheiro se tornava preponderante na categoria, transformando-a num jogo de interesses em que ninguém pode perder nenhum centavo. É esse jogo de interesses que fez a Mercedes intervir na animadíssima briga Rosberg x Hamilton após o GP da Bélgica, uma intervenção que, aparentemente, tirou todo o tesão do alemão na luta pelo título. Depois daquilo, só deu Hamilton (que é mais piloto, sem dúvida, mas vinha comendo o pão que o diabo amassou contra a frieza do companheiro).

Em Austin, uma pista fabulosa, apenas 18 carros largaram. Caterham e Marússia alegaram não terem condições financeiras de correr e nem devem mais voltar à F1. A Lotus e a Sauber estão no bico do corvo. A equipe suiça, vinha realizando um programa especial para colocar Simona de Silvestro na F1 ano que vem, o que seria uma ótima jogada de marketing e um atrativo para a categoria. Mas não teve grana para dar continuidade e anunciou a contratação do endinheirado Marcus Ericsson para 2015. Ele estava na Caterham e não mostrou nada, mas é rico e isso basta para os padrões de entrada atuais.

A F1 precisa se reinventar, esportivamente falando. Sim, é muito legal essa história de sustentabilidade, mas ela deve vir como pano de fundo do esporte, não como bandeira principal (e que sustentabilidade é essa, com esses carros caríssimos correndo para uma audiência pífia?). Mexer no regulamento, flexibilizar as determinações para que os projetistas possam colocar suas mentes para trabalhar, dar mais autonomia aos pilotos, adotar pneus de verdade, ao invés dessas porcarias que acabam em três voltas. Sei lá, é preciso fazer algo.

Bernie Ecclestone andou falando em mexer na distribuição financeira. É uma boa medida, mas só ela não resolve. E não é Ecclestone, 84 anos, quem vai ser capaz de mexer tão profundamente. A F1 precisa de cabeças que a entendam como esporte, não apenas como negócio.

Uma categoria esportiva que não tem graça, também não tem popularidade. E o caminho para o fim, nessa condição, é curto. Espero, sinceramente, que alguém esteja pensando no assunto.

Um comentário:

Ron Groo disse...

Tem razão... A F1 desapareceu. Ficou só um clone sem graça no lugar.