terça-feira, 11 de novembro de 2014

Desapeguem

Alguns pitacos sobre a transmissão que a Rede Globo fez do GP do Brasil, no ultimo domingo. Há um limite entre o que é aceitável e o que não é para se conseguir audiência e é por essas e outras que não considero nenhuma tragédia se a Globo decidir deixar as transmissões somente a cargo do Sportv.

Em primeiro lugar, o locutor: há pelo menos cinco anos, vem ficando cada vez mais claro que Galvão Bueno perdeu a mão. Basta assistir à alguma corrida antiga, mesmo as que eram disputadas por Ayrton Senna, para perceber que o locutor abandonou de vez o profissionalismo para adotar uma postura de torcedor de arquibancada. Sua narração do pit-stop de Valteri Bottas, torcendo loucamente para que algo desse errado é, desde já, um dos mais constrangedores momentos da crônica esportiva.

Narrar uma corrida, ou qualquer esporte, é transmitir as informações, traduzir o que está se passando na tela, levando a emoção do momento ao telespectador. Galvão não narra mais as corridas. Não narra as ultrapassagens, sequer sabe o que está se passando na pista. Sua preocupação é justificar todo e qualquer movimento de Felipe Massa, procurando desculpas para os erros e tentando fazer parecer que os feitos são maiores do que são. E, verdade seja dita, Reginaldo Leme aparentemente cansou de fazer o “advogado do diabo”, e também entrou nesse clima, o que é uma pena.

A outra questão é a obssessão insuportável da emissora com Ayrton Senna. Sim, ele foi importante, foi um dos maiores gênios do esporte, parte importante da popularização do automobilismo no país. Mas morreu há 20 anos.

Ontem, Interlagos tinha as presenças de Nelson Piquet e do maior de todos, Emerson Fittipaldi. A abertura da transmissão foi toda dedicada a Senna e seu capacete estava na cabine de transmissão, como uma imagem a ser cultuada. Um objeto de devoção.

A Globo precisa desvincular a imagem de Senna da Fórmula 1. É por causa de bobagens desse tipo que ouvimos a todo o momento frases como “só assistia na época do Senna”, “na época do Senna era melhor”, ou “nenhum brasileiro presta, depois do Senna só tivemos pilotos horríveis”. São coisas que em nada ajudam, estabelecem um parâmetro desleal e contribuem para a audiência pífia que as corridas têm no Brasil.

É claro que homenagear grandes ídolos faz parte do show, mas já tivemos muitas homenagens a Senna em maio. O Brasil teve outros ídolos e, de certa maneira, viveu momentos relevantes na Fórmula 1 após sua morte. Momentos que não são reconhecidos porque a Globo faz questão de, indiretamente, desvalorizá-los, com essas demonstrações de nacionalismo barato, essa covardia que faz com todos os pilotos brasileiros que tentaram alguma coisa no automobilismo mundial, após a morte de Senna.

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