quinta-feira, 1 de março de 2012

Os cinco lados da história



O circo estava armado para hoje, às 13hs. Todo mundo já sabia o que ia acontecer mas, em clima de final feliz, Rubens Barrichello anunciou que vai correr na Indy, em 2012. A equipe será a KV Racing, a mesma de Tony Kanaan e Ernesto Viso. O brasileiro vai correr todas as provas, inclusive nos ovais, visto que sua esposa, aparentemente, deu a tão sonhada permissão.

Uma entrevista pé no chão da parte do piloto, sem as promessas malucas do tempo de Fórmula 1. Um Barrichello mais tranqüilo e conhecedor dos rumos da sua carteira. Antes da primeira bandeira verde do ano, a Fórmula Indy parece já lhe ter feito bem.

Não há perdedores nesta história. A transferência de Rubens para a Indy acontece num momento excelente para todos os envolvidos. Vejamos:

A Band
A emissora paulista jamais tentou baixar o tom ufanista de sua programação esportiva e, talvez por isso, nunca tenha dado muita bola para a Indy. Infelizmente, desde a aposentadoria de Gil de Ferran em 2005, os pilotos brasileiros não têm tanto destaque. Tony Kanaan e Hélio Castroneves sempre aparecem bem em uma ou outra prova mas, como nunca correram na F1, não têm tanto apelo junto ao público.

Sobre o ufanismo cabe uma explicação: não sou totalmente contra a promoção de um evento por parte de uma emissora. Ainda mais automobilismo que não desperta mais o mesmo interesse. O que acho reprovável é a desonestidade das televisões com o telespectador, chegando a mentir e omitir fatos sobre os pilotos brasileiros apenas para não “queimá-los” com o público. Bem, não há nenhuma expectativa de que isso não vá ocorrer. Portanto, o negócio será por a TV no mudo em 2012 e acompanhar as corridas pela Internet.

O piloto
Como bem disse Ivan Capelli, em seu blog, o jeitão camarada e boa praça de Rubens Barrichello nunca combinou muito com o ambiente austero e profissional da Fórmula 1. Isso pode ser a explicação para o fato de o piloto, mesmo reconhecidamente talentoso, nunca ter sido capaz de derrotar companheiros de equipe em times fortes como Brawn e Ferrari.

Na Indy é o contrário. O ambiente é leve, os pilotos são amigos, acabam as corridas e se sentam em mesas de bar e enchem a cara de cerveja.  No GP do Brasil, em 96, no Rio de Janeiro, Al Unser Jr. circulava pelos boxes, entre tanques de metanol, fumando cigarros e bebendo Whisky. Al Unser Jr. é um gênio.
O ambiente é perfeito para Barrichello dar continuidade a sua carreira. Lá ele pode dar suas sambadinhas à vontade, ninguém vai achar ridículo. E, pelo lado técnico, Rubens sempre foi um ótimo piloto de Fórmula 1, onde estão os melhores do mundo. É natural que, na Indy, seja um piloto de ponta.

A Indy
O boom da Indy, que ocorreu na primeira metade da década de 90, mostrou ao mundo uma categoria com pilotos de alta qualidade, excelente nível técnico, pistas seletivas e um ambiente que remetia ao automobilismo de antigamente. Aquele em que as montadoras eram só fornecedoras de motores, chassis e pneus para os donos de equipe, apaixonados por velocidade.

Depois houve a separação entre Cart e IRL, as duas quase se destruíram, uniram-se de novo e agora vêem tentando se reerguer. Mas o espírito da Indy, sua ligação com o automobilismo clássico, sempre se manteve.

A chegada de um piloto de carreira sólida na Fórmula 1 remete à época de ouro da Indy, quando Emerson Fittipaldi, Mario Andretti e Nigel Mansell se juntaram à Al Unser Jr., Michael Andretti e Bobby Rahal e fizeram da categoria americana um show. É claro que Rubens não representa um terço do que representaram Fittipaldi e Mansell, mas sua carreira na Fórmula 1 é importante o suficiente para nos fazer acreditar que seu nome pode ajudar a Indy a recuperar sua fama, principalmente no Brasil.

A KV
A equipe de Jimmy Vasser nunca esteve na ponta da Fórmula Indy, mas teve um up-grade importante com a chegada de Tony Kanaan em 2011. Rubens Barrichello traz grande bagagem técnica, já que está há 19 anos em contato com o que há de mais moderno no automobilismo. Isso sem contar o retorno de marketing que o piloto trará para o ex-campeão da Cart.

O público
Ninguém é indiferente quando o assunto é Rubens Barrichello. Amado ou odiado, o “Rubinho do Brasil”, criado pela Rede Globo, foi o cara em quem todos os torcedores depositaram suas esperanças após a morte de Ayrton Senna. Infelizmente, na pista, os resultados não vieram como esperado e Rubinho se tornou um personagem folclórico.

Suas vitórias, quando aconteciam, eram celebradas como gols de times de futebol. Suas derrotas eram recebidas com desdém, “é lento, é ruim, é perdedor”, era o que diziam.

Isso não vai mudar. Mas, na Indy, Rubens dependerá mais de si mesmo para conseguir resultados e, bom piloto que é, não duvido que eles venham. Se vencer a corrida da Indy em São Paulo, iremos presenciar uma das maiores festas do automobilismo brasileiro. Não tenho dúvidas.

Um comentário:

Ron Groo disse...

Também lá o carro é fundamental... Penso que ele fez uma escolha na casa do sem jeito. Agora vai ter de aguentar.