terça-feira, 31 de maio de 2011

500 milhas: o resgate do automobilismo

J.R. Hidelbrand se arrasta no muro enquanto Wheldon vence em Indianápolis: celebração do automobilismo

Todos os anos, quando me sento para assistir às 200 voltas das 500 milhas de Indianápolis, me pego pensando sobre os rumos do automobilismo. Afinal de contas, qual é a dificuldade de se juntar 33 caras num circuito, dar a eles carros que têm motores, volantes e rodas e aguardar para ver qual deles chegará ao final inteiro, mais rápido do que os adversário e pronto para virar uma garrafa de leite na comemoração?

Ok, a Indy tem uma porção de problemas e eles foram bastante evidenciados na última corrida aqui em São Paulo. Mas, Indianápolis, é um capítulo à parte. As 500 milhas são aquilo que mais chega perto do automobilismo clássico, que é simples: largar e chegar a um ponto mais rápido do que todos os adversários, sem se preocupar com asas móveis, KERS, obrigatoriedade de se usar dois tipos de pneus (regulamento que existe na Indy, mas é abolido em Indianápolis), punições excessivas e o diabo a quatro.

Não. Há 100 anos Indianápolis coloca no troféu Borg Warner o rosto daquele que, em 200 voltas, consegue ser rápido, ultrapassar, poupar combustível, compensar seus erros, enfim, ter aquilo que se precisa ter para ganhar uma corrida de automóveis.

A corrida do último domingo trouxe tudo isso. Tivemos poucas bandeiras amarelas, muitas disputas, gente se destacando e fazendo barbeiragens. E tivemos, para coroar o aniversário de 100 anos da prova, um final antológico.

Faltando 20 voltas para o final era impossível conhecer o vencedor. A Ganassi, que liderou boa parte da prova tentou estratégias diferentes com seus dois pilotos e errou as duas. Aí veio Danica Patrick que liderou algumas voltas até parar para reabastecer. Deixou a liderança para Bertrand Baguette que parecia ter acionado o botão do foda-se no seu carro, mas foi chamado aos boxes na volta 196.

E a vitória cairia no colo de J. R. Hildebrand, um estreante que tinha o carro pintado nas cores do exército, sua vitória seria épica para o povo americano. Seria. Porque na última curva Hildebrand, atrapalhado por um retardatário, pegou a linha suja da pista e estampou o muro. Ainda se arrastou até a linha de chegada mas a vitória já era de Dan Wheldon, inglês, que só tinha contrato para disputar essa prova (outra particularidade deliciosa das 500 milhas).

Wheldon deu sorte, mas estava lá, foi rápido quando precisou, poupou quando foi necessário, e cruzou a linha de chegada à frente de seus 33 adversários que, como ele, não tinham nenhuma asa móvel, nenhum KERS e seus pneus não viravam farofa pelo caminho. Eram ele, seu carro e sua equipe. Como é no automobilismo de verdade.

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