quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Pelo fim do rádio

Prost tenta passar Piquet e os dois batem na Holanda, em 82:
se fosse hoje, os engenheiros não permitiriam a manobra

Eu tenho uma mania que me acompanha há muitos anos: adoro assistir aos “FIA Official Season Review”, aqueles videos que a FIA lança ao final de cada temporada, com um resumo do que aconteceu no ano. Até hoje tenho guardados os VHS de 87 até 91, com narração do Reginaldo Leme. Assisti essas fitas até gastá-las.

Mas o VHS perdeu espaço, eu sempre protelei o trabalho de digitalizar o material e já há algum tempo não conseguia assistir as fitas. Mas a Internet está aí para resolver todos os problemas da vida e, outro dia, achei todos os filmes oficiais da FIA, desde 1980 até a temporada de 2010. Estão com a narração original em inglês e são ótimos para treinar a lingua, portanto baixei e comecei a assistir.

Faço essa longa introdução porque ao assistir a esses videos, me chamou a atenção o fato de que, ao longo dos anos, os pilotos foram perdendo autonomia. Se, no início dos anos 80, tudo ficava nas mãos deles, cabendo aos engenheiros e mecânicos preparar o carro e fazer bons pit stops (além de definir a estratégia de corrida, junto com o piloto), a coisa veio mudando. Hoje, o piloto não precisa se preocupar com nada, a cada segundo da corrida vem o engenheiro no radio e diz o que e como ele deve fazer.

É por isso que sou totalmente favorável a proibição da comunicação por rádio. Seria uma maneira simples de se dar ao piloto poder de decisão, reduzir a incidência de jogos de equipe o tempo todo, enfim, dar a Fórmula 1 um ar de competição mais apurado, sem ter que mexer na tecnologia dos carros, o que poderia ser um retrocesso. Comunicação com o piloto, somente por placas.

Mas a FIA consegue fazer tudo de uma maneira torta e, para a próxima corrida, estabeleceu uma estranha e evasiva proibição: as equipes não podem passar dados técnicos para os pilotos. Bem, isso é o que as equipes fazem o tempo todo, passam dados técnicos, falam pro cara contornar a curva x do jeito y, informam que o pneu está desgastando mais na banda da esquerda, dizem que o espelhinho está desregulado, que o ar-condicionado não está na temperatura ideal, blá, blá, blá.

O resultado dessa ordem ridícula, será o seguinte, já adianto: a partir do GP de Cingapura, passaremos a ver uma série de mensagens cifradas, enganando o espectador e os comissários como se estes fossem crianças idiotas.

FIA, será que não seria mais fácil proibir logo o rádio? Seria mais honesto, mudaria a dinâmica das corridas, tornaria o esporte mais humano à medida em que dá ao piloto a possibilidade de tomar decisões sobre sua corrida, como era nos anos 80.

Será que é difícil fazer as coisas de um jeito mais simples?

2 comentários:

Por Dentro dos Boxes disse...

Bruno,

texto perfeito... concordo com você...

mas a muito tempo não tenho mais tesão com a F1 atual...

a 'invasão' da tecnologia prejudicou o esporte... o piloto é conduzido ao invés de conduzir... estranho mas é assim mesmo que está acontecendo... e assim, para mim, perdeu a graça...

abs...

Bruno Aleixo disse...

Os caras não têm mais leitura da corrida. Um piloto como o Prost, atualmente, não teria diferencial nenhum....