quarta-feira, 27 de março de 2013

As cinco mais: ordens de equipe


Costumo dizer que existe uma diferença entre trabalho em equipe e jogo de equipe: o jogo de equipe é o que vimos na Malásia, no último domingo. É o tal do “tragam as crianças para casa” eternizado pelo covarde Ross Brawn, quando ele comandava a Ferrari. É a equipe, sem um motivo aparente, privilegiar o conforto de uma dobradinha à competição natural, ou privilegiar um piloto em detrimento de outro.

Trabalho em equipe é quando, num final de campeonato, o piloto que não tem mais chance ajuda o outro que está na briga, mas de forma limpa. Nisso não vejo mal algum. Massa entregou uma vitória à Raikkonen no Brasil, em 2007, e isso deu o título ao finlandês. O brasileiro estava fora da disputa. Nada mais natural.

Bem, ordens ou trabalho, vamos à uma pequena listinha de algumas dessas atitudes que se tornaram célebres:

Villeneuve e Hakkinen (Europa/97)

Talvez o primeiro e único caso de um jogo de equipe entre equipes. Jacques Villeneuve, da Williams, cedeu a vitória no GP da Europa para Mika Hakkinen, da McLaren, na última curva da corrida. Naquela prova, Villeneuve disputava o título com Schumacher e o alemão já tinha saído da prova, depois de se dar mal ao tentar bater no carro do canadense. Villeneuve seguiu na prova e liderava tranqüilo. Ocorre que Frank Williams e Ron Dennis haviam feito um acordo antes da prova, no qual a vitória ficaria com Hakkinen caso Schumacher estivesse fora da prova.

Foi a primeira vitória do finlandês na Fórmula 1. Villeneuve, por sua vez, jamais voltaria ao alto do pódio.



Mansell e Patrese (Itália/92)

O campeonato de 1992 foi uma das maiores humilhações públicas da história do automobilismo. A Williams havia construído um carro que era praticamente uma nave espacial, com vários recursos eletrônicos, o que acabou criando quase uma categoria a parte dos carros amarelos e azuis. Nigel Mansell foi
campeão na Hungria, um pouco depois da metade do campeonato.

Frank Williams, então, passou a negociar com Alain Prost para o ano seguinte, o que deixou o “Leão” furioso. Na Itália, a crise havia explodido e Mansell anunciou que estava de saída para a Indy, categoria na qual faria muito sucesso em 1993. Durante a corrida, Frank deu ordem para que ele permitisse que Riccardo Patrese, italiano e companheiro de Mansell, vencesse a corrida em seu país. Mansell deu passagem, mas passou o tempo todo colado no italiano, mostrando que poderia passar a qualquer momento. Até que, na volta 41, deixou a prova alegando problemas de câmbio. Mas, nos bastidores, acredita-se que o Leão tenha se retirado de propósito, revoltado com a ordem de equipe que recebera.

E Patrese acabou não vencendo a prova, já que enfrentou problemas elétricos no carro e chegou em quinto lugar.



Senna e Prost (San Marino/89)

Os dois pilotos da McLaren, Ayrton Senna e Alain Prost, tinham um acordo que rezava que o piloto que pulasse na frente na largada deveria ser preservado na primeira curva, para evitarem acidentes. Nessa corrida, Prost pulou na frente de Senna e, na freada da Tosa, o brasileiro colocou por dentro e fez a ultrapassagem.

Esse lance foi decisivo no relacionamento dos dois pilotos, que era cordial até então. A McLaren explodiu numa crise interna que culminou com a polêmica decisão do título daquele ano, quando Prost jogou seu carro sobre o de Senna em Suzuka e ficou com o tricampeonato.



Alonso e Massa (Alemanha / 10)

“Felipe, Fernando is faster than you”. A frase definitiva na carreira de Felipe Massa foi pausadamente pronunciada na metade da corrida, quando o brasileiro liderava a prova a frente de Fernando Alonso. Há um ano, Massa havia sofrido o acidente mais grave da sua carreira e a vitória na Alemanha representaria não só um recomeço, mas uma importante afirmação para o piloto, que disputava sua primeira temporada contra o talentoso espanhol.

As conseqüências daquela ordem foram devastadoras para a carreira do brasileiro que, desde então, jamais conseguiu voltar a mostrar a mesma capacidade na pista e viveu um inferno astral nos ano de 2011 e 2012, com um desempenho abaixo da crítica. Agora tenta se recuperar mas é, talvez, o segundo piloto com papel mais bem definido da F1 atual.



Schumacher e Barrichello (Áustria / 02)

A mais célebre ordem de equipe entre todas as ordens de equipe, mudou todos os padrões de comunicação entre equipes e pilotos na Fórmula 1. Rubens Barrichello andou melhor que Michael Schumacher durante todo aquele fim de semana e liderava a prova até a última volta, quando Ross Brawn mandou que eles trocassem de posição. Rubens deixou o companheiro passar há alguns metros da bandeirada, gerando uma revolta jamais vista na história da Fórmula 1. O autódromo inteiro vaiou a Ferrari e seus pilotos. Envergonhado, o então tetracampeão, colocou Barrichello no alto do pódio, numa das mais constrangedoras cenas da história do esporte.




Nenhum comentário: