quarta-feira, 18 de maio de 2011

Adrian Newey fala sobre o acidente de Senna



Pódio do GP da Espanha, em 94: uma temporada que Adrian Newey jamais esquecerá


Vira e mexe surgem entrevistas, fatos novos, teorias mil sobre o acidente que matou Ayrton Senna. Como não há uma conclusão da justiça, ninguém foi condenado, o piloto morreu na hora e nem o carro existe mais para que sejam feitas mais investigações, o acidente entra naquela categoria de fatos sobre os quais jamais saberemos a verdade. Nisso ele se difere pouco de situações tão diversas como a final da Copa de 98 ou a recente morte de Osama Bin Laden.


Mas sempre que alguém diretamente envolvido com o fato resolve falar, o depoimento ganha importância. Dessa vez foi Adrian Newey, o gênio por trás da Red Bull e projetista do Williams FW16, o carro que Senna pilotava em 94. Em uma entrevista para o repórter Donald McRae, do jornal “The Guardian” Newey afirmou não ter certeza do que provocou o acidente, mas apontou um furo no pneu como principal causa.


Segundo ele, o acidente que aconteceu na largada daquele GP de Ímola, envolvendo Pedro Lamy e J.J. Letho deixou destroços na pista e, ao passar com o carro naquele lugar, na relargada, o pneu traseiro direito de Senna teve um pequeno furo e foi esvaziando ao longo da 6ª volta. Newey disse ver claramente, pela imagem do carro de Schumacher, que o Williams escapou de traseira. Pela telemetria, segundo ele, Senna teria tirado o pé do acelerador para corrigir a trajetória mas o carro saiu de frente, foi de encontro ao muro e o resto é história.


Claro que é uma opinião forte, mas vem de uma parte interessada. Como projetista, Newey não deve ter o menor interesse em admitir que uma falha no carro idealizado e construído por ele, pode ter causado o acidente que vitimou um dos maiores ídolos da Fórmula 1. Essa teoria sobre pneus não é nova, muitos defendem que o aquecimento deles não estava adequado, devido às voltas lentas atrás do Safety Car, fizeram com que não se expandissem corretamente, deixando o carro baixo demais para o irregular asfalto de Ímola. Há, ainda, os que acreditam que Senna abaixou o carro de propósito, tentando ganhar vantagem sobre a Benetton de Schumacher.


Particularmente, até que provem o contrário, sou da corrente que acredita na quebra da barra de direção. A imagem da câmera do carro mostra uma mudança brusca de direção com a frente do carro, e não com a traseira. Fica claro que Senna iniciava o contorno da curva e, de repente, as rodas dianteiras mudam de rumo, mandando o carro direto para o muro.


Mas isso importa pouco. Ninguém deve ter sofrido mais do que Adrian Newey, Frank Williams e Patrick Head naquela ocasião e, por mais que se investigue, jamais será possível apontar um culpado. Guardo uma imagem muito particular de Newey, da época do acidente: no GP da Espanha daquele ano, Damon Hill venceu. Era a primeira vitória da equipe inglesa na temporada e, quando o inglês cruzou a linha de chegada, a TV cortou para uma imagem de Newey, à beira da pista, chorando muito. Lágrimas sinceras e comoventes, de um profissional exemplar que produziu algumas da máquinas mais eficientes da Fórmula 1 e que teve a infelicidade de ver uma de suas criações se espatifar num muro, tirando a vida do piloto.


Não deve existir nenhuma punição mais rigorosa que essa.


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